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Eles só pensam naquilo: concursos públicos!


Por Jean de Menezes Severo


Fala moçada tudo certo? Mais uma coluna de quinta-feira que foi preparada pensando sempre nos estudantes de Direito e jovens advogados que decidiram militar junto ao Direito Penal. Hoje a coluna vai tratar de um tema que muito me chamou atenção quando ministrei minha primeira aula de Direito Penal junto à Facos, qual seja: o grande número de estudantes que estão optando pelos concursos públicos como carreira profissional a ser seguida.

Ingressei na faculdade no ano de 1998. Recordo que, quando da apresentação dos alunos em sala de aula, informando nome, idade e qual a carreira jurídica que desejavam seguir a resposta era esmagadora: Vou ser advogado; e a maioria ainda informava a área de atuação: quero ser advogado criminalista!

Pois bem. Semana passada, ao repetir este gesto com meus alunos, tive uma grande surpresa: a esmagadora maioria de alunos, em uma turma com sessenta estudantes de Direito, tinha feito a opção pelo concurso público, sendo a carreira do Ministério Público o maior desejo destes estudantes.

Fiz uma profunda reflexão sobre o tema, eis que sou um advogado vocacionado e convicto que a advocacia, em especial a criminal, é uma das profissões mais lindas e gratificantes do mundo. Ainda não encontrei respostas, mas indícios de respostas que talvez possam explicar essa nova postura dos estudantes.

Implico boa parcela de culpa as faculdades de Direito, que optaram por contratar professores com grande conhecimento acadêmico, portadores dos mais diversos títulos, mas que nunca pisaram em uma delegacia de polícia para fazer um flagrante por exemplo; conhecem os mais diversos autores nacionais e estrangeiros, mas não conhecem a alma humana; nunca tiveram que consolar uma mãe que teve um filho condenado; que fugiram a vida inteira do plenário do júri temendo o enfrentamento com o Parquet.

No meu modesto entender, um professor de Direito Penal ou Processo Penal deve ter o mínimo de conhecimento do cotidiano de um advogado criminalista. O conhecimento teórico é de muita valia, importantíssimo, mas a prática profissional é vital para aquele que deseja ensinar, como dizia Dr. Prestes, meu grande mestre: Conhecer apenas a teoria sobre determino assunto é como ir a um restaurante e só ler o cardápio, sem saborear comida alguma. Portanto, completamente sem lógica ou graça alguma.

Falta de vocação para ensinar é outro fator que desestimula os alunos sem a menor sombra de dúvidas. O professor de Direito, ou professor de qualquer outra matéria, é no meu humilde ponto de vista, apenas um instrumento de conhecimento e nada mais. Ele precisa possuir as ferramentas certas para estimular o aluno a fixar-se em sala de aula. Aquela afirmação de que depende exclusivamente o seu aprendizado é no mínimo leviana. O professor sim tem a obrigação de fazer com que seus alunos fiquem atentos e interessados durante a exposição da sua aula.

Lembro que meus grandes mestres, professores de alma, eram todos, antes de qualquer coisa, ADVOGADOS MILITANTES. Suas aulas sempre foram as mais interessantes e repletas de alunos. Sequer precisavam fazer chamada, porque os alunos faziam questão de ali estarem presentes; queriam aprender com aqueles que realmente conheciam o tema, tanto na prática quanto na teoria.

Também acredito que a estabilidade financeira que um funcionário público tem, somada ao bom salário, fazem com que o aluno sem muito incentivo em sala de aula a seguir a advocacia, decida também pelo concurso público, no entanto, ele deve ter em mente que uma minoria é aprovada nestes concursos, com um numero cada vez maior de candidatos. Uma aprovação nesses quadros pode levar anos e mais anos, sem esquecer que as mais diversas contas e despesas não esperam o vivente.

Ao final, quero lembrar meus leitores que a não aprovação no concurso desejado faz com que o antigo candidato se depare com uma dura realidade. E agora? Não aprovei nos concursos que fiz; o edital de outros só sai daqui a um ano e o que fazem estes amigos? Desembocam na advocacia na maioria das vezes, despreparados e prejudicando diversas pessoas que achavam que estavam diante de um profissional capacitado, mas que, nos últimos anos, o máximo que fez como advogado foi ler e reler doutrinas e nada mais.

Solução para isso: Que as faculdades comecem a escolher seu corpo docente com mais cuidado, procurando selecionar profissionais com vasto conhecimento teórico, mas também com grande conhecimento prático. Também é preciso que os professores se conscientizem da sua importância dentro de sala de aula e façam com que suas aulas sejam mais atrativas para os alunos, chamando a turma para si, transformando os alunos em grandes profissionais, não importando a carreira profissional!

Fui, pois tenho que preparar minha aula de hoje com carinho e respeito para com meu aluno!

JeanSevero

Jean Severo

Mestre em Ciências Criminais. Professor de Direito. Advogado.

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