A Guerra das Correntes e a criação da Cadeira Elétrica
Por Iverson Kech Ferreira
A Guerra das Correntes protagonizada por Thomas Edison e Nikola Tesla no final do século XIX, que discutia qual seria a melhor forma de fornecimento de energia elétrica para os lares, transformou-se numa disputa acirrada entre os dois renomados cientistas, que, apesar de determinar qual tecnologia seria a mais adequada, propiciou também à imaginação e criatividade humana alçar voos mais sinistros.
Enquanto Tesla acreditava que a corrente alternada, ou seja, aquela considerada mais eficiente para transmitir a corrente elétrica por longas distâncias, seria a melhor tecnologia jamais vista no âmbito da energia, Edison, que defendia a corrente continua, tentou de tudo para impedir e desacreditar Tesla.
Nesse interim, Edison, comandou campanha para desestimular o uso da tecnologia apregoada por Tesla, divulgando notícias de acidentes fatais que teriam ocorrido pelo uso da corrente alternada. Teve a ideia também, para o infortúnio de suas cobaias, de utilizar-se desse tipo de energia para vencer seu rival na corrida pela fama e glória científica, na execução de animais de pequeno e grande porte. Tais execuções foram realizadas pelos cientistas de Thomas Edison, a seu mando, onde utilizavam animais como gado bovino e equino, cães e gatos, até um elefante foi eletrocutado para que ficasse comprovada a maleficência da energia alternada.
Tais execuções foram filmadas e demonstradas na imprensa norte americana da época, pretendendo rebaixar a teoria de seu rival, mas que no fim, teve outra consequência. Edison realizava seus experimentos abertos ao público, onde a execução de animais poderia ser vista pelas pessoas, caluniando e difamando a obra de Tesla, criando engenharias eletrônicas que pudessem, com auxilio da odiada (por Edison) corrente alternada, ceifar a vida de suas cobaias.
Tendo perdido a Guerra das Correntes, Edison e seus experimentos maquiavélicos com animais, pois sim, os fins justificam os meios nesse sentido, viu Harold P. Brown, um de seus cientistas braços direitos e amigos notáveis, criar e desenvolver, tendo como parâmetro as obras de Edison e seus experimentos, a cadeira elétrica.
Em 6 de agosto de 1890, William Kemmler, por ter assassinado sua mulher a golpes de machado, foi condenado a morte e entraria para os livros de história como aquele que abriria as honras da execução pelo sistema de alta tecnologia criado então pelo homem. Por seu corpo deveriam passar descargas elétricas com a finalidade de interromper o ciclo vital, inutilizando as funções do cérebro e do coração, no similar momento em que tal rajada fluísse por sua vitalidade. Entretanto, os operadores de tal aparato não entendiam o calculo da tensão e não mensuraram ao certo qual a potência de energia que deveria ser liberada para a execução certeira.
Dessa forma, o primeiro choque em um ser humano na história não foi suficiente para causar a sua morte, ferindo-o deveras. Os aproximados mil volts recebidos em seu corpo necessitavam de mais mil volts para causar sua morte. Após alguns minutos com o condenado e sua agonia propiciando um macabro contexto, a máquina pôde ser religada e o procedimento repetido, matando de vez o moribundo. Acontece que na época uma segunda rajada de energia somente poderia ser liberada entre três a cinco minutos depois do primeiro uso, tempo necessário para que seja permitida mais uma descarga. Imaginar o que esse período significa para o corpo vivo chamuscado e necessitado da morte mais que nunca, não é labor para este que humildemente que vos escreve, nem fácil de ser mensurado por qualquer pessoa que leia esse breve relato.
A máquina finalmente foi ligada e por dois minutos condensou o corpo do réprobo, vaporizando-o.
Interessante o fato de que Thomas Edison era contrario a pena de morte, sendo reconhecidamente um cientista humanitarista, com inúmeras invenções que modificaram a vida humana. A cadeira elétrica é uma delas. De fato, os primeiros passos para a sua criação vieram dos experimentos de Edison e na guerra contra seu opositor, Nikola Tesla. Todavia, na época, o setor de execuções prisionais somente conhecia a forca e a ultrapassada guilhotina, não utilizada mais nos Estados Unidos.
Para muitos, a forca era um espetáculo dos mais atrozes e horrorosos possíveis. Ao liberar o cadafalso abaixo dos pés do sentenciado seu corpo fica pendurado por minutos até que a asfixia colha seu último suspiro. Para que não sofra sobremaneira, seria necessário que rompesse os ossos do pescoço, partindo a traqueia e quebrando a coluna vertebral ao esticar a corda após o cadafalso ser retirado. Tal fato ocorria muito raramente devido a posição da corda no pescoço da vítima. Assim, com a criação da cadeira elétrica, um novo conceito de execução mais humana estava inventado, onde convivia o homem com a racionalidade e paixão que o diferencia das outras espécies. Matar não era mais tão difícil assim.
Na execução de Kemmler, quando da primeira vez que se utilizou desse infortúnio, repórteres teriam escrito: “Melhor se usassem um machado”, e até “terrível espetáculo, muito pior que o enforcamento.”
Outras execuções mal sucedidas ocorreram nos anos seguintes, entre elas, a de Fred Van Wormer, em Sing Sing, no ano de 1903. O individuo foi eletrocutado e declarado morto pelo médico que acompanhava a cena. No momento em que puseram seu corpo na sala de autopsia notaram que ainda respirava. Destarte, foi o carrasco chamado novamente, todavia, ele já havia se retirado do local. Antes de seu retorno, Wormer morrera na maca de autópsia. Ainda assim, num funesto ritual, seu cadáver foi fixado na cadeira pelo verdugo e novamente eletrocutado, por 30 segundos.
Os EUA e a Indonésia utilizavam dessa invenção para aniquilar o condenado. Até 2003 no EUA esse era o método para execução na Florida, Nebraska, Alabama, Carolina do Sul, Tennesse e Virgínia. Devido a suas grandes falhas e seu método, a cadeira, conhecida e batizada pelos funcionários das penitenciarias Norte Americanas como Old Sparky (Velho Flamejante) deu lugar às injeções letais. Ainda existem execuções na cadeira elétrica, mas para isso, o condenado a morte deve decidir sua preferência pela cadeira ou injeção. No ano de 2013, em janeiro, Robert Gleason foi o último condenado a morrer, e decidir morrer, pela cadeira elétrica. Em 15 de fevereiro de 2008 o Supremo Tribunal Federal de Nebraska declarou proibida a execução nesses moldes, por ser “punição cruel e incomum”.
Um dos maiores inventores da humanidade não passaria despercebido na área de penalização do Estado. Sua maior invenção nesse âmbito foi o último trono para muitos condenados. A expectativa é entender como criações e o desenvolvimento humano planeja desde épocas inquisitivas da igreja na idade conhecida como Trevas, conseguem superar todo um arcabouço de engenhocas monstruosas para tirar a vida e com isso, servir de exemplo para outros.
A criação da cadeira elétrica foi na época reconhecida como avassaladora e seu desenho era tão assustador, ou mais, quanto a forca ou a guilhotina. Custa-nos saber quem puxará a alavanca dessa tão engenhosa máquina, e quem, de fato, teria coragem para tal missão. Sua estética assemelha-se aos rituais de lobotomia e encarceramento para torturas diversas, demonstrando o lado feroz do poder do Estado, que julga, sentencia e aplica a sentença fatal.
De toda forma, Thomas Edison obteve êxito ao comprovar sua tese: a corrente alternada mata.
É de Edison a famigerada e celebre frase: “Um gênio se faz com um por cento de inspiração e noventa e nove por cento de esforço”. Pode-se tirar uma lição da invenção “sem querer” de uma tecnologia utilizada até ontem para execução humana: Tudo o que puder ser inventado será reutilizado em prol da humanidade (sic), mesmo que para isso haja a evolução de como matar com mais eficiência do que antes. E ainda estamos engatinhando tecnologicamente, há mais o que ser criado, para o bem ou para o mal.