Advocacia artesanal é um exercício mental constante
Advocacia artesanal é um exercício mental constante
Muito se fala em advocacia artesanal e em seus benefícios para o cliente, assim como a necessidade de que o advogado pratique essa forma de advocacia como forma de se diferenciar dos seus concorrentes. A advocacia artesanal consiste em adotar soluções e estratégias únicas para cada caso, diferenciando-se da advocacia de massa, na qual são adotados os famosos “modelões”, nos quais apenas são alterados os dados dos clientes.
O que poucos falam é que a experiência pode atrapalhar a advocacia artesanal. Isso porque quanto mais experiência adquirimos, mais corremos o risco de ver um novo caso como “mais um, parecido com uns 3 que já atuei antes”. Todos reconhecem os benefícios da experiência, mas poucos reconhecem o benefício da falta dela.
Quando o advogado não conhece um assunto, lê com mais calma o processo e seu pensamento divaga em teses defensivas. Além disso, tem humildade para reconhecer que não sabe o suficiente e estuda mais sobre o assunto antes de elaborar a petição.
Não quero que pareça que estou defendendo a falta de especialização ou desvalorizando a experiência. Porém, quero esclarecer que não basta ter poucos processos ou não usar modelos para dizer que exerce uma advocacia artesanal.
A advocacia artesanal é um exercício mental constante, devemos sempre nos questionar: estou fazendo o suficiente para o meu cliente? Se eu fosse o cliente, estaria satisfeito com a minha atuação? O que eu poderia/deveria estudar antes de elaborar uma petição? Estou pensando em todas as teses defensivas ou apenas fazendo o que todo mundo faz?
A advocacia artesanal também consiste em coragem. Coragem para tentar, mesmo quando a experiência nos diz que não vai dar certo (o que é bem comum na advocacia criminal). Em alguns pontos, devemos tentar regressar à esperança do advogado inexperiente, evitando que a experiência nos transforme em advogados de massa, mesmo com poucos processos.
A verdadeira ampla defesa e contraditório consiste em alegar e fazer de tudo, mesmo que você não acredite que trará resultados. Se você tem poucos processos, mas faz apenas um “copia e cola” nas petições, estratégias e atitudes, você é mais parecido com advogados de massa do que imagina. Entretanto, os advogados de massa ainda levam vantagem, pois produzem mais e estão sempre sob imensa pressão para cumprir prazos.
Não escrevi esse texto para dar lição de moral ou ensinar como se advoga. É apenas uma reflexão que faço às vezes, um exercício mental constante. Esse exercício mental já me ajudou a insistir em estratégias que eu não acreditava que trariam resultado e acabaram dando. O meu objetivo é apenas um: incitar a reflexão necessária para exercer a advocacia artesanal.
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