Ser advogado criminalista é, acima de tudo, saber contar histórias
Saber contar histórias. O advogado criminal e o contador de histórias. Se eu tivesse de resumir o que significa a advocacia criminal, resumiria numa simples frase: a arte de contar histórias. Assim, somente assim.
A mágica do causídico reside justamente em sua plena potência de fazer rir, chorar, emocionar, ter raiva, ter empatia, ter paixão. Tudo separado, tudo junto e misturado.
Nós, os advogados somos retratos vivos da dura realidade humana, somos testemunhas das humilhações diárias. Sofremos, choramos, mas – e é o que sempre esperamos – também rimos, nem que seja ao som de pequenas palavras de impacto como: absolvição, recurso provido e expeça-se alvará de soltura. Mas apesar de tudo, não passamos de meros contadores de histórias.
Passamos nossas vidas no meio de histórias. Histórias de amor desastrosas, histórias de vingança, histórias de doença (que alguns também insistem em chamar de amor), histórias de fraternidade e muitas, mas muitas, histórias mal-contadas.
Vivemos de história. Fazemos história.
A cada petição, a cada linha, a cada frase de efeito, carregamos a esperança, o desejo por liberdade, o sonho da renovação, a vontade da “volta por cima”. Contamos a história de alguém ao mesmo tempo em que somos parte da história de alguém.
A advocacia criminal, quem sabe, seja justamente isso: ser parte da história de alguém. Alguém que já não tem mais a quem dividir sua própria história, alguém que tem sua própria história desacreditada. Passamos a ser os únicos credores dessa história. Passamos a ser os mensageiros dessa história.
A advocacia criminal, caros colegas, não é para qualquer um. Ela não aceita meros ouvintes, ela não se conforma com meros espectadores. Ela quer mais. Ela exige mais. Ela quer combatividade, raça, amor e paixão. A cada linha escrita, a cada palavra dita, temos que bradar por aqueles que já não possuem mais o privilégio de falar. Somos a voz dos mudos e os olhos dos cegos. Somos a história de quem, aos poucos, vê sua história ser esquecida.
Somos a expressão máxima do ideal cristão de amor ao próximo.
Mas será que tudo se resume mesmo ao contar histórias?
Talvez mais que contadores de histórias. Talvez mais.
O que seríamos então?
Bom, creio que isso daria tema para muitas boas histórias.