O cotidiano do advogado criminalista: apanhar e levantar
O cotidiano do advogado criminalista: apanhar e levantar
Nos dias atuais, com a grande mídia noticiando a todo momento crimes de todo tipo: homicídios, furtos, roubos, latrocínios, estelionatos, corrupção e etc …, a sociedade acaba por ficar contaminada e inebriada por um sentimento de medo e vingança contra esses “estereótipos do mal” que vemos todos os dias nos jornais, televisão e redes sociais, quando por mais das vezes esses estereótipos são apenas consequências de um problema muito maior, e não as causas.
Aliado a esse fato, a sanha punitivista dos nossos magistrados, que acatam toda e qualquer posição do parquet, de forma que atualmente o Ministério Público não mais requer; ele determina, cria um cenário onde a maioria das pessoas enxerga que só há uma solução: PUNIR, PUNIR E PUNIR.
Nesta esteira, os poderes executivo e legislativo, eleitos por essa mesma sociedade que busca cada vez mais rigor nas punições, acabam por seguir tal mentalidade punitivista e elegem sua principal bandeira de governo: SEGURANÇA PÚBLICA.
Mas não uma segurança pública pensada de maneira técnica e científica; o projeto apresentado é populista e só respeita a opinião da grande mídia e da população, ou seja: PUNIÇÃO SEVERA E EXEMPLAR PARA AQUELES QUE TRANSGRIDEM A LEI PENAL.
Neste cenário, quem é que aparece entre toda essa fome punitivista e o réu ou indiciado?
VOCÊ, ADVOGADO CRIMINALISTA.
Você é o último obstáculo, a última barreira entre o sistema penal e processual penal brasileiro, de características e conteúdo inquisitorial, elaborado na ditadura brasileira da década de 40, com inspiração no código Rocco, código este fascista, da Itália ditatorial, e que até hoje vigora em terras brasileiras.
Quando você, advogado criminalista, chega a uma Delegacia de Polícia, é você contra todo um aparato estatal que se dirige e trabalha no sentido de punir o indiciado.
Quando você, advogado criminalista, apresenta suas alegações finais, faz sua sustentação oral ou defende seu cliente em sede de Audiência de Instrução e Julgamento, é você contra todo o sistema judiciário, que na maioria das vezes é pouco técnico e altamente punitivista.
E só para deixar registrado: O DIREITO NÃO É O QUE OS JUÍZES DIZEM QUE É.
Por essa razão, você, advogado criminalista, perderá muitas vezes na sua carreira; e por mais das vezes perderá tendo total razão jurídica, sendo a mesma baseada na melhor técnica, com fundamento legal, doutrinário e jurisprudencial.
Aliás, até mesmo no seu seio familiar e na sua roda de amigos você não será compreendido; as pessoas não entenderão porquê você tem determinado pensamento sobre certa situação. Você, advogado criminalista, terá que se acostumar a ter opinião diferente de 99,99% pessoas da sociedade; mas não deixe que isso faça você duvidar de seus ideais e convicções.
Mas essa é nossa função, perder (apanhar) e levantar. TODOS OS DIAS. Lute. Não desista nunca. Você defende o bem mais valioso do ser humano depois da vida, a LIBERDADE. A cada INDEFERIDO, a cada NÃO CONCEDIDO, sua força e perseverança devem aumentar.
Apanhar e levantar
Nesta esteira, vem-me à mente uma passagem do filme “Ponte de Espiões”, onde Tom Hanks interpreta um advogado americano que defenderá um espião russo em plena Guerra Fria.
Em um dado momento do filme, o espião russo diz a Tom Hanks que ele lembra seu pai, que diversas vezes fora espancado pelo polícia, mas sempre levantava; a polícia batia e ele sempre levanta; apanhava e levanta; apanhava e levantava.
Esse é o nosso lema caros advogados criminalistas; esse é o nosso dia a dia: APANHAR E LEVANTAR.
Quer estar por dentro de todos os conteúdos do Canal Ciências Criminais?
Siga-nos no Facebook e no Instagram.
Disponibilizamos conteúdos diários para atualizar estudantes, juristas e atores judiciários.