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Você conhece um advogado de borracha?

Você conhece um advogado de borracha? Na semana passada tivemos a morte brutal de um colega no estado de Santa Catarina e essa semana outro advogado é assassinado no Rio de Janeiro pelo fato de garantir a soltura de seus clientes, no entanto, o colega esqueceu que o acusado é solto pelo juiz e que nossa profissão é de meio; só podemos prometer ao cliente o nosso trabalho e o máximo comprometimento para com a causa que estamos defendendo.

Leitores, nunca coloque o dinheiro na frente do que é realmente importante. Advogar no crime exige cuidado, nervos de aço e isso não se conquista do “dia para a noite”. Fica a dica e vamos para mais uma coluna!

Logo que me formei (e isso foi há mais de dez anos), durante uma visita ao Presídio Central de Porto Alegre para realizar um parlatório em favor de um novo cliente cuja família havia me contratado porque o antigo advogado não apresentava empenho nenhum na soltura do cliente.

Só atendia os familiares do réu em dias de pagamento, bem como não dava informações básicas da situação dos autos aos familiares que estavam lhe custeando os honorários. Dessa forma, o advogado foi desconstituído e eu assumi o processo.

Lembro até hoje a alegria do apenado ao me ver e não era pelo fato de eu ser um grande criminalista; talvez grande só no peso e altura. O apenado estava mesmo feliz por não ter visto o antigo advogado. Ele sorriu e logo falou:

“Graças a Deus aquele advogado de borracha não me defende mais!”

Eu ainda não tinha ouvido aquela expressão advogado de borracha e olha que eu já tinha alguma experiência atuando em processos criminais, mas me interessei pela expressão e perguntei  ao preso:

“Advogado de quê, meu velho? De borracha Doutor. Bah! O cara só falava em dinheiro e não botou os papeis no homem” (entende-se homem = juiz).

Realmente o antigo colega não tinha feito o acordado com a família do réu. Ele havia se comprometido a fazer uma liberdade provisória e um HC, mas apenas apresentou um simplório pedido de liberdade que, naturalmente, não foi deferido.

Depois de escutar essa expressão advogado de borracha, comecei a identificar esse tipo de advogado que denigre a classe e faz com que várias famílias venham a sofrer. Infelizmente, eles estão espalhados por aí. Ainda bem que são minoria, porém, de fácil identificação. Senão vejamos:

O advogado de borracha não tem lealdade alguma com seu cliente, família do cliente ou com a causa. Sua preocupação é, unicamente, seus honorários que, se não pagos na data certa, o faz renunciar ao processo sem consultar sequer a família do acusado.

Ele não procura saber se naquele mês a família enfrentou dificuldades financeiras e não aceita receber seus honorários uns dias fora do prazo, afinal de contas, seu comprometimento é com a “moeda”. o cliente “que se dane”; é “vagabundo mesmo”!

Esse advogado para assumir um processo, na sua busca incansável pelo dinheiro, esquece completamente o código de ética da OAB. Mente para familiares de réus presos que já possuem advogado constituído, dizendo que ele pode fazer um trabalho melhor, que conhece beltrano, ciclano, que solta o réu preso em quinze dias, que conhece ministros em Brasília, bastando depositar aquela polpuda quantia na conta que em alguns dias o réu estará solto.

Numa roda de advogados, ele é facilmente identificado: sabe de tudo, seus recursos sempre são providos, fala pelos cotovelos, mas quando chega a hora da audiência, é um cordeiro; fica mudo, porque, na realidade ele, é só “migué”.

Mal conhece os autos e quando faz alguma pergunta em audiência para testemunhas, vítimas ou para o réu, não acerta uma. Acaba por prejudicar ainda mais a defesa do seu constituído e, quando o processo tem mais réus, acaba prejudicando a todos. Uma verdadeira tragédia.

Quando atua no cível, não repassa os valores aos clientes que obtiveram êxito em suas demandas. Perder prazo é normal para ele, afinal de contas, quem perde a causa não é ele e sim o cliente e mesmo assim este “ser” consegue dormir tranquilamente, pois a advocacia é só um meio para se manter, para prejudicar os outros.

Ele não tem amor pela profissão e nunca ouviu falar nos mandamentos do advogado. Ele só se interessa pelo dinheiro. Tem orgasmos quando lê a palavra alvará, já que ele só quer saber de valores. É só o que conta para ele.

Fico feliz em ter no meu grupo de amigos, sejam na rede social ou fora dela, somente grandes advogados, éticos e leais que antes de qualquer coisa, amam sua profissão. O dinheiro é importante, mas não está em primeiro lugar. Seu comprometimento é com a causa, com seu cliente.

Ele anda com a cabeça erguida em qualquer foro deste mundo de meu Deus. Vai envelhecer advogando e fazendo o que ama, diferente do advogado de borracha que ou será cassado pela OAB ou pela vida.

Felizmente, não existe espaço para este tipo de profissional, portanto, meu jovem estudante, não se torne um advogado de borracha. Vale a pena ser ético, honesto. O reconhecimento e o dinheiro vêm naturalmente. Não coloque “os pés pelas mãos” e não te esqueça: no crime, o sentimento de vagabundo é na sola do pé!

Jean Severo

Mestre em Ciências Criminais. Professor de Direito. Advogado.

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