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Análise dos crimes sexuais

Análise dos crimes sexuais

Os crimes sexuais, pela visão do Criminal Profiling, possuem várias vertentes com tipos específicos dependendo do país e do entendimento. É um tema muito complexo e pode ser analisado por vários ângulos. A pedofilia e a parafilia, por exemplo, lidam com aspectos específicos que envolvem os crimes sexuais e por isso precisam ser explicados separadamente.

Primeiramente, é necessário desmistificar algumas informações encontradas no senso comum e que podem, inclusive, dificultar as investigações por trazer ideias errôneas de como os crimes sexuais ocorrem.

No Brasil, assim como em vários outros países, existe um ambiente cultural que dificulta a apuração de crimes sexuais, e propaga informações que inibem as vítimas de buscarem as autoridades para denunciar.

Existem pesquisas elaboradas pelo Ipea que possuem dados do Brasil sobre o estupro de 2011 a 2014. Lembrando que existe uma enorme subnotificação, então o número de casos é muito maior que os estudados e especificados tanto nessa pesquisa como nas pesquisas elaboradas no exterior.

Para o senso comum, o estuprador é uma pessoa desconhecida, doente mental ou um monstro que comete um crime hediondo em pequeno número e que deve ser punido de forma severa. Inclusive os próprios criminosos presos veem o estuprador como alguém que deve ser punido e muitas vezes é colocado em cela separada para não sofrer retaliação dos demais presos.

Além disso, as autoridades precisam tomar muito cuidado quando indiciam uma pessoa pelo crime de estupro, tendo em vista que essa pessoa será rechaçada e sua vida nunca mais será a mesma.

Observando esses fatos, vemos que existe uma noção de alta reprovação quando se fala em crimes sexuais. Por outro lado, existe a culpabilização da vítima e o medo delas de agir, pois podem sofrer uma nova violência quando precisam recontar os fatos e muitas vezes são desacreditadas, pois é um crime que dificilmente deixa vestígios.

Com tudo isso, existem vários mitos sobre o estuprador, e o profiler precisa saber e entender a realidade para analisar uma cena de crime, pois o crime sexual vai muito além de um ato; envolve também a cultura e visão social do local em que ocorreu.

Existem tipos de estupros diferentes que podem ser relacionados como: aqueles cometidos por desconhecidos, os cometidos por conhecidos, o estupro de vulnerável, o estupro masculino, o estupro matrimonial (que foi recentemente reconhecido pelo Reino Unido) e os estupros coletivos. Todos esses crimes sexuais possuem suas peculiaridades e podem ser analisados a partir das características gerais para as específicas.

Quanto aos fatos sobre os estupros:

  • A maioria das vítimas conhecem o agressor;
  • A maioria dos crimes ocorre em espaço fechado;
  • Não possuem evidências da presença de psicopatologia;
  • Foco na expressão de poder e na humilhação pela dominação, não na libido;
  • Ameaça é a maior arma do agressor, não necessariamente agressão física;
  • Acontece com qualquer mulher, independente de suas atitudes.

Em relação aos estupradores:

  • Normalmente já cometeram em média cinco estupros antes de serem condenados;
  • Os elementos principais são a raiva, o poder e a sexualidade muitas vezes ligada ao sadismo;
  • O sexo em si não é a motivação primária e sim o que o ato significa;
  • Existem várias classificações, entre elas a de organizado e desorganizado;
  • Possuem uma fantasia específica e tenta cumpri-la o mais próximo possível.

A partir dessas informações é possível inferir que os estupradores não costumam ser doentes mentais; que cometem os crimes principalmente com pessoas conhecidas em lugares fechados; que não escolhem suas vítimas por provocações e sim por fantasias individuais; e que normalmente não deixam vestígios, o que dificulta a sua captura.

São motivados pelo poder, raiva ou sadismo exercidos no sexo pela submissão e humilhação e não pelo sexo em si, pela libido. Existe um prazer sexual envolvido, mas ligado ao sentimento que o leva a cometer o ato, podendo, inclusive, sentir em outros atos como é o caso dos estupradores que escalam para assassinos em série, algo mais comum entre aqueles motivados pelo sadismo e pela raiva, pois são mais violentos e sentem uma gratificação sexual não só da violência verbal, mas também física.

Ademais, pelo prazer momentâneo proporcionado, costumam agir continuamente, pois sempre terão o ímpeto de sentir aquele prazer novamente e vão agir sempre para satisfazer as suas necessidades.

O crime sexual é um tema de difícil compreensão e muitas vezes visto como um assunto a ser evitado, contudo, ocorre o tempo todo e por isso precisa ser estudado e abordado com mais frequência, principalmente nas investigações para melhor resolução.


REFERÊNCIAS

DOUGLAS, John E., BURGESS, Ann W. et all. Crime Classification Manual: A Standard System for Investigating and Classifying Violent Crimes. 3ª Ed., Wiley, United States, 2006.

HOLMES, Ronald M., HOLMES, Stephen T. Profiling Violent Crimes: An Investigative Tool, Sage Publication, London-England, 1996.

IPEA – Estupro no Brasil: vítimas, autores, fatores situacionais e evolução das notificações no sistema de saúde entre 2011 e 2014. Disponível aqui.

Verônyca Veras

Especialista em Criminal Profiling. Advogada.

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