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Arnon de Melo: pai de ex-presidente e assassino impune

Arnon de Melo, representante do PDC-AL, enfrentava uma tensão palpável enquanto se preparava para falar no microfone do Senado Federal naquele fatídico 4 de dezembro de 1963. Se decidisse proferir seu discurso, ele sabia que o faria sob ameaças de morte. Horas antes da sessão começar, em uma ligação anônima, Arnon foi informado de que o senador Silvestre Péricles, do PTB-AL, estava espalhando na sala do café do Senado que, se Arnon decidisse falar naquele dia, “encheria sua boca de balas”.

A rivalidade entre os dois não apenas era conhecida, mas também assombrava aquela legislatura do Senado Federal. Silvestre Péricles de Góis Monteiro e Arnon de Mello eram arquirrivais na política alagoana há mais de uma década. Tudo começou em 1950, quando a família Góis Monteiro, que dominava a política local, se dividiu. Ismar, irmão de Silvestre Péricles, decidiu apoiar Arnon de Mello para o governo estadual, desconsiderando a candidatura indicada pelo grupo do irmão. Desde então, a rivalidade entre Mello e Góis Monteiro só aumentava.

Arnon de Melo: pai de ex-presidente e assassino impune
Imagem: Reprodução

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O assassinato

Na manhã do dia 4, a ameaça de Silvestre Péricles se espalhou e chegou aos ouvidos do senador paulista Lino de Matos, que se surpreendeu com a gravidade da situação e foi confirmar a informação com Góis Monteiro. Ao ser questionado sobre a veracidade da ameaça, um furioso Silvestre Péricles garantiu a Matos que, sim, encheria de balas a boca de Arnon de Mello se ele ousasse falar. Matos decidiu então informar o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, sobre a situação.

Moura Andrade já havia tomado medidas de segurança excepcionais para aquele dia, diante dos boatos de que capangas alagoanos estariam no Congresso Nacional para apoiar seus clãs se o conflito escalasse para a violência física. Além de aumentar a segurança para acessar a galeria do público, guardas à paisana foram posicionados pelo recinto. Com o aviso de Matos, Auro decidiu emitir um aviso incomum antes de conceder a palavra a Arnon de Mello, o primeiro a falar naquela sessão.

Arnon começou seu discurso às 15 horas e 3 minutos. “Sr. Presidente”, disse Mello, “permita-me dirigir minhas palavras ao senador Silvestre Péricles de Góis Monteiro, que ameaçou minha vida hoje, quando comecei meu discurso…” Nesse momento, ele foi interrompido. Arnon notou que Silvestre Péricles estava se aproximando com o braço erguido, o dedo apontado e a garganta inflamada pelos gritos de “crápula”. Arnon sacou um revólver e, mirando no adversário, disparou duas vezes.

O tumulto se instalou. Góis Monteiro se abaixou rapidamente e saiu ileso. Enquanto os guardas do Senado tentavam conter Arnon, ele disparou pela terceira vez. Silvestre Péricles, entre as cadeiras da bancada, também sacou sua arma e avançou em direção a Mello. Ele estava prestes a atirar quando o senador João Agripino, da UDN-PB, entrou em cena, se jogou sobre Góis Monteiro e, segurando o gatilho do revólver do alagoano, impediu o disparo. Ambos foram imobilizados, mas um tiro atingiu José Kairala, que estava próximo de Silvestre Péricles.

Arnon de Melo: pai de ex-presidente e assassino impune
Imagem: Reprodução

Kairala era senador por acaso naquele dia. Tendo assumido temporariamente a cadeira no Senado, ele acabou sendo vítima do tiroteio. Após ser atendido, Kairala veio a falecer horas depois no hospital. O trágico evento chocou a opinião pública e levou a mudanças significativas no Senado, incluindo a proibição do porte de armas no recinto.

Impunidade para Melo

O episódio resultou em prisões, inquéritos e julgamentos, mas nenhum dos envolvidos foi condenado. A falta de responsabilização legal deixou a família de Kairala desamparada, sem qualquer compensação pela perda do ente querido. Arnon e Silvestre Péricles, apesar do tumulto, voltaram à vida política após o incidente, mas o tiroteio marcou para sempre a história do Senado brasileiro.

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