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Aos formandos, com carinho

Por Rossana Brum Leques

Nenhum ano da vida acadêmica de um estudante de direito é mais conturbado que o quinto ano. OAB, monografia, efetivação… São muitas as ansiedades que devem ser administradas – e sim, acreditem, isto é apenas um pequeno aperitivo do que está por vir. Vai piorar – e muito.

De alguma forma, por não ter em minha família pessoas da área jurídica, sempre senti falta de alguém que fosse do “game”, que pudesse dar alguns conselhos específicos e condizentes com o mercado.

Como uma jovem advogada, ainda tenho fresco na memória como é viver todas estas sensações, ressuscitadas recentemente pela minha primeira turma de formandos. Acompanhar a aventura deles foi quase como reviver a minha.

Sim, porque com o passar dos anos percebemos como toda aquela ansiedade era desnecessária. Talvez isto seja algo da vida, cíclico mesmo. Neste ano, vivi algumas novas experiências – comecei o doutorado, mudei de emprego… E, naturalmente, foi um turbilhão de emoções. Toda nova etapa gera isto.

De qualquer modo, acredito que saber para onde se quer ir é o ponto número um, de partida.

Para isso, tente descobrir o que te envolve mais, o que espera da sua rotina, com qual área quer trabalhar. Neste aspecto, o estágio pode ser fundamental. No meu caso, foi nele que confirmei o que o meu coração dizia – eu nasci para ser advogada criminalista.

É difícil ter alguma certeza sobre o futuro, mas arrisco um palpite – e dificilmente errarei. O início será difícil. Você ganhará mal, trabalhará muito, será colocado à prova o tempo todo (este é o mundo de um advogado júnior, não se iluda). Imagine viver tudo isto para fazer algo que você não gosta ou não acredita?

Eu teria jogado tudo para o alto, tenho certeza. O que fez diferença, no meu caso, é ser completamente apaixonada pelo que faço. Nunca fiquei chateada em ter que trabalhar aos finais de semana, estudar de madrugada e por aí vai. Nunca foi um sacrifício. É evidente que pode ter sido cansativo (e ainda é) em alguns momentos. Mas sempre achei tudo muito recompensador. Nunca faltou brilho no olhar.

Tenha consciência que o seu tempo é precioso. Gaste-o pensando no que é mais apropriado para o seu futuro. Se você quer uma carreira pública, por exemplo, o caminho que deverá perseguir é diferente de quem quer ser advogado. Daí a importância de identificar seus objetivos e direcionar seus atos.

Em segundo lugar, cultive suas relações.

Se você “viveu” a faculdade de verdade (centro acadêmico, festas, monitorias, iniciação científica…), terá algumas vantagens. Tudo isso conta – e fará diferença no seu futuro. Festas? (Poderia perguntar o leitor). Sim. As festas também são importantes. Aliás, se tivesse que apontar algum arrependimento, este seria o meu (vivi intensamente a faculdade, mas não curti muito as festas).

Explico. As festas da faculdade criam laços com os demais estudantes. No futuro, teus colegas serão teu network… Eles farão parte dos principais escritórios, serão juízes, promotores, delegados. Não perca o contato, cultive as relações da faculdade (veteranos, novatos, professores, monitores). Cada contato que fiz foi valioso para que pudesse chegar até aqui e sinto por ter percebido isto apenas depois de formada.

Terceiro. Invista em você. Isso significa que entre comprar qualquer novo objeto de desejo ou realizar algum curso, se seus recursos financeiros forem limitados, creio que o curso talvez seja uma opção mais interessante a longo prazo. Aulas de inglês, seminários, livros…

E, por favor, não pare. O direito exige constante reciclagem. Os escritórios e empresas buscam profissionais qualificados, as faculdades contratam apenas professores com formação de excelência. Pós-graduação, mestrado, doutorado podem ser um caminho. Digo “podem” porque nem todos possuem aptidão e querem seguir carreira acadêmica. Conheço profissionais incríveis e muito bem sucedidos que não possuem qualquer vocação acadêmica. Se você não possui tal vontade, priorize cursos de curta duração, congressos – não faltam opções interessantes para quem quer estudar e se aprimorar.

Por fim, mas não menos importante. Preocupe-se com a sua imagem. Hoje você é o quintanista, amanhã será o chefe. Os escritórios cada vez mais se preocupam com isso. Fique atento ao que posta em suas redes sociais. Postura e vestimenta também contam muito, especialmente no ambiente corporativo.

Ninguém espera que você seja o melhor advogado do mundo aos vinte e poucos anos de idade. O que esperam de você é que seja dedicado, hábil tecnicamente e consistente. Querem ver potencial e vontade.

Certa vez, meu primeiro chefe me disse que um bom advogado é feito por 97% de dedicação e esforço e 3% (ou talvez até menos) de genialidade. É verdade. Então, faça a sua parte.

O futuro pode ser brilhante – depende apenas de você.

_Colunistas-Rossana

Rossana Brum Leques

Advogada (SP) e Professora

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