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John Wayne Gacy, o palhaço assassino


Por Bernardo de Azevedo e Souza e Henrique Saibro


“Um palhaço pode ‘se dar bem’ somente como assassino.”

(John Wayne Gacy)

A PERSONALIDADE

John Wayne Gacy era um homem de grande prestígio em Chicago, nos Estados Unidos. Era casado e tinha um casal de filhos. Católico “praticante”, possuía posição de liderança em comissões religiosas. Membro da Defesa Civil no estado de Illinois, capitão-comandante da Defesa Civil da cidade, tesoureiro do Partido Democrata, empresário, dentre outras incumbências, foi até considerado Homem do Ano na cidade. Nas horas vagas, fantasiava-se de Palhaço Pogo e divertia as crianças em festas beneficentes e hospitais.

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Gacy fantasiado para festas beneficientes

Com tamanha reputação, ninguém imaginaria que Gacy viria a ser considerado um dos maiores serial killers do mundo. Paralelamente à sua vida de fachada, já havia sido condenado a 10 anos de prisão, em Iowa, por abusar sexualmente de um menor de idade. Cumpriu 18 anos de pena e, após, obteve liberdade condicional, em razão de seu bom comportamento carcerário. Outras acusações o rondavam, sempre envolvendo abusos sexuais e violência contra pessoas do mesmo sexo – normalmente adolescentes.

Posteriormente foi constatado que, na infância, era espancado e abusado sexualmente por seu pai – que sofria de alcoolismo. Seu pai o ridicularizava perante todos e ainda o chamava de homossexual, tratando-o com desprezo. Apesar disso, Gacy o amava e buscava, a todo custo, o seu prestígio (o que nunca aconteceu). Fora isso, aos 11 anos, por causa de uma pancada na cabeça, formou-se um coágulo que seria descoberto apenas 5 anos depois do trauma. Apenas aos 16 anos tal enfermidade foi identificada pelos médicos – e os esforços dos profissionais explicarem ao seu pai que o caso era sério; que Gacy não estava ensaiando desmaios para atrair atenção, não foram suficientes.

Igualmente, aos 17 anos foi diagnosticado como portador de uma doença cardíaca rara, que tornou o hospital a sua “segunda casa”. Os médicos nunca souberam explicar a causa das dores insuportáveis que alegava sofrer constantemente. Contava à polícia que possuía quatro personalidades: o empreiteiro, o palhaço, o político e o assassino (este último alcunhado de Jack Hanson). Foi considerado por diversos psiquiatras como um sujeito compulsivo, perfeccionista, esquizofrênico, paranoico, sociopata, narcisista, mentiroso patológico e multipolar.

AS VÍTIMAS

Todas estas circunstâncias levaram Gacy a vitimar, oficialmente, nada menos do que 33 jovens. Muitos dizem que matou mais gente. Mas foi uma vítima não fatal que ajudou a desencadear fortes pistas dos assassinatos: Jeffrey Ringall, na época com 27 anos. Em março de 1978, Ringall aceitou a carona de um sujeito gordo e sorridente. O carro era um Oldsmobile preto. No meio do trajeto o motorista agarrou-o, colocando em seu nariz um pano contendo clorofórmio. Sua consciência foi perdida e, sempre que recuperada, era novamente sedado pelo condutor.

Acordou, no dia seguinte, no meio do Lincoln Park sem saber como foi parar ali. Verificou, depois, que estava com diversos hematomas e queimaduras pelo corpo. Foi ao hospital e por lá permaneceu internado por dias. Sofreu danos irreparáveis e permanentes no fígado em virtude da inalação desmedida de clorofórmio. Mas sua memória era falha e, fora tais fatos, recordava-se apenas de ter sido abusado sexualmente em uma casa e açoitado com um chicote. Os indícios não eram suficientes para apontar a autoria do crime.

Obstinado pela causa, Ringall, após quase um ano do episódio, lembrou-se de uma avenida que avistou durante o sequestro. Não pensou duas vezes em deslocar-se ao local e aguardar, dias a fio, um Oldsmobile preto transitar pela rua. Quando finalmente deparou-se com o carro, seguiu-o e adivinhem onde o motorista estacionou o seu carro? Na casa de Gacy. Ringall ajuizara, então, uma queixa-crime contra o seu abusador.

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Algumas das vítimas de Gacy

Gacy, perante às autoridades, confessou que atraía suas vítimas mediante promessas de emprego ou de dinheiro em troca de sexo. Uma vez seduzidas, eram algemadas, violentadas sexualmente, torturadas e mortas por estrangulamento com uma corda ou com um pano. Normalmente, durante as torturas, fantasiava-se de Palhaço Pogo. Gostava de ler passagens bíblicas em meio à execução criminosa. Quase todas as suas vítimas estavam enterradas meticulosamente embaixo do chão de sua casa, que havia sido construída arquitetonicamente para tais fins. Explicou à polícia que, no momento em que não havia mais espaço físico na sua residência para enterrar os mortos, começou a dispensá-los no rio Des Plaines, em Illinois.

O JULGAMENTO

Durante o julgamento, as teses revezavam-se. A acusação alegava que que Gacy tinha condições mentais de entender a ilicitude e gravidade de seus crimes (imputabilidade). A defesa, por sua vez, sustentava que o homem era doente mental e não deveria ser submetido a uma pena de reclusão.

As principais testemunhas de Gacy foram sua mãe e suas irmãs, que puderam confirmar os constantes abusos e agressões realizadas pelo pai. Todavia, amigos igualmente arrolados pela defesa disseram expressamente aos jurados que Gacy não era insano – o que prejudicou, e muito, a estratégia de seus advogados.

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John Wayne Gacy sendo conduzido ao julgamento

A testemunha-chave para a acusação foi justamente o sobrevivente Jeffrey Ringall, que, durante suas declarações, chorava e vomitava compulsivamente. O julgamento teve de ser paralisado, por diversas vezes, para que o rapaz se recuperasse psicologicamente e prosseguisse seu depoimento. Ao final, o júri decidiu que John Wayne Gacy era imputável e culpado pela morte de 33 jovens. Foi sentenciado à pena de morte mediante injeção letal.

A PRISÃO

Gacy ficou preso por 14 anos. Durante o período, enquanto aguardava o resultado dos recursos apresentados por seus advogados, tentou suicídio e se tornou alcoólatra. Foi na pintura artística, contudo, que encontrou algum conforto. Tingia autorretratos, personalidades conhecidas – como Hitler, Charles Manson, Alcapone e John Dillinger –, mas seu tema principal eram os palhaços. As pinturas ganharam fama e foram exibidas em diversas galerias norte-americanas. As pessoas pagavam caro – de US$ 100,00 a US$ 20.000,00 – para comprar as telas. Gacy chegou a receber perto de US$ 140.000,00 pelo “conjunto da obra”.

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Algumas das telas pintadas por Gacy na prisão

A EXECUÇÃO

A execução estava marcada para 10 de maio de 1994. A expectativa na cidade era intensa: todas as redes de rádio e televisão se deslocaram para a penitenciária Stateville, em Joliet, Illinois para fazer a cobertura do ato. Nas ruas, o povo cantava alto e brindava, aguardando com ansiedade o início da execução. Moças com lanternas empunhadas subiam nos ombros dos namorados. Rapazes vestiam camisetas com inscrições “Nenhum lágrima para o palhaço”. À medida que as horas passavam, a cantoria era entoada com mais entusiasmo.

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O povo aguardando com expectativa a execução de Gacy

No lado de dentro, Gacy desfrutou a última refeição de sua vida: frango, camarão, batatas fritas e morangos frescos. Permaneceu na companhia de familiares e amigos, que tiveram de se retirar às 21h. Os preparativos finais começaram por volta das 23h. Exatamente às 00h01min, o homem foi movido de sua cela, amarrado a uma maca e encaminhado para a câmara de execução. Através de uma janela, testemunhas acompanhavam o ato atentamente.

Gacy teve a oportunidade de pronunciar suas últimas palavras: “Kick my ass!”. Recebeu, então, quatro doses intravenosas, em sequência: solução salínica, sódio tiopenal (para dormir), brometo de pancuronium (para paralisar o aparelho respiratório) e, por fim, cloreto de potássio (para cessar os batimentos cardíacos). No decorrer do procedimento, o tubo pelo qual o soro estava sendo ministrado entupiu. Enquanto Gacy bufava, os executores fecharam as cortinas e tiveram de trocar o tubo por um novo.

Após 18 minutos, o palhaço fechou seus olhos para sempre, provocando o alívio do povo que cantava no lado de fora. Contudo, para os pais que perderam seus filhos, a despedida de Gacy de nada iria confortar. Com sua morte, o paradeiro de alguns dos jovens que tiveram suas vidas suprimidas jamais seria revelado.


REFERÊNCIAS

ALMIRANTE, Sam L.; BRODERICK, Danny. John Wayne Gacy: defending a monster. New York: Skyhorse Publishing, 2011.

CASOY, Ilana. Serial killers: louco ou cruel? Rio de Janeiro: Darskide, 2014.

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Henrique Saibro

Advogado. Mestrando em Ciências Criminais. Especialista em Ciências Penais. Especialista em Compliance.

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