Este artista brasileiro viveu 50 anos em instituições psiquiátricas e foi tema de exposição
Brasileiro que sofria de esquizofrenia passou a ser considerado artista
Na noite de 22 de dezembro de 1938, o brasileiro Arthur Bispo do Rosário, então com 29 anos de idade, peregrinou durante dois dias pelas ruas do Rio de Janeiro, onde morava, até chegar ao Mosteiro de São Bento, no centro da cidade para anunciar aos monges que era um enviado de Deus para “julgar os vivos e os mortos”.
Depois disso, ele foi encaminhado ao Hospital Nacional de Alienados, antigo manicômio localizado na Praia Vermelha. Diagnosticado com esquizofrenia paranoide, foi transferido dias depois para a Colônia Juliano Moreira, instituição psiquiátrica em Jacarepaguá onde passaria a maior parte das cinco décadas seguintes.
Em sua cela, o brasileiro passou a utilizar qualquer material que encontrasse, como lençóis, uniformes, pedaços de madeira de caixas de feira, cabos de vassouras, chinelos, tênis Conga, talheres, canecas e todo o tipo de sucata e objetos que ganhava e trocava com outros pacientes para recriar cenas do cotidiano e a contar a sua versão da história do universo.
No final dos anos 80, já nos anos finais da vida de Bispo, o mundo artístico começou a descobrir suas obras. Após a morte, ele continuou a ganhar reconhecimento da mídia e da crítica especializada, com exposições no Brasil e no exterior e uma apresentação na Bienal de Veneza, em 1995, onde sua arte foi aclamada como vanguardista.
Leia mais:
Caso Richthofen: imagem do próximo filme é divulgada e surpreende o público
Argentina julga 6 acusados de caso chocante de estupro coletivo em Buenos Aires à luz do dia
Brasileiro se torna um dos maiores artistas do Brasil, diz especialista
Ouvido pela BBC News Brasil, o curador do Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, Ricardo Resende disse que “Bispo do Rosário é um dos maiores artistas brasileiros“.
Sobre as obras do brasileiro, Ricardo ainda explica:
“Quando sua obra emergiu, não se encaixava em nada do que havia registrado na história da arte, mas parecia se inserir em tudo o que a modernidade e a contemporaneidade haviam criado. Na verdade, pode-se dizer, precede tudo”, diz Resende.
“O que poderíamos chamar de ‘estética da precariedade’, ou ‘estética da pobreza’, tão comum na arte contemporânea, expressando a simplicidade da vida na instituição, nas cidades e campos, e da criança que nunca foi esquecida. É isso que Bispo involuntariamente nos apresenta como sua estética.”
Exposição em Nova York
Atualmente, as obras do brasileiro, que foram criadas dentro de celas de manicômios, se tornaram tema de uma exposição na galeria da Americas Society, em Nova York, no que é a primeira retrospectiva dedicada a ele nos Estados Unidos. O título da mostra é Bispo do Rosario: All Existing Materials on Earth (Todos os Materiais existentes na Terra), uma referência à missão que marcou a trajetória do artista.
Confira imagens da exposição:
Fonte: BBC News