Entrevistas

As consequências das falsas memórias (Entrevista com Elizabeth F. Loftus – parte 3)

Por Redação

Dando continuidade à série de entrevistas com Elizabeth F. Loftus (parte 1 e parte 2), hoje a professora nos conta um pouco sobre as consequências das falsas memórias.

Quais as consequências que podem advir das falsas memórias?

Pessoas que desenvolveram falsas memórias sobre parentes que as violentaram durante a infância geralmente têm atitudes diretamente ligadas a estas memórias, cortando os laços com seus familiares, por exemplo. Em geral, estas pessoas não conseguem obter o tipo de ajuda profissional que poderia restaurar sua saúde (McNally, 2003). Estes casos eventualmente acabavam com o diagnóstico do que costumava ser chamado de distúrbio de personalidade múltipla e agora é chamado transtorno dissociativo de identidade.

Embora barreiras éticas previnam a produção experimental destas consequências por pesquisadores, também foram criadas formas inofensivas de coletas de evidências sobre as consequências das falsas memórias. Em uma série de estudos, pesquisadores plantaram uma falsa memória de que, enquanto crianças, os participantes teriam ficado doentes ao comer pepinos, ovos cozidos, sorvete de morango e outros alimentos (Bernstein et al., 2005). Os investigadores não apenas tiveram sucesso plantando as falsas memórias em uma minoria significante de indivíduos (em torno de 405), mas também aqueles que não sucumbiram à sugestão reportaram posterior desinteresse nos alimentos mencionados.

E estas técnicas podem funcionar não apenas com alimentos, mas também com o álcool. Em outro estudo, pessoas foram levadas a acreditar que ficaram doentes por beber um tipo específico de álcool e, posteriormente, acabaram mostrando tendências para a diminuição de sua preferência para esta bebida (Clifasefi et al, 2013). Esta linha de investigação tem implicações importantes para seleção nutricional (e, talvez, o problema da obesidade enfrentado pela sociedade ou o problema com a bebida que algumas pessoas enfrentam) demonstrando como as falsas memórias afetam pensamentos posteriores, intenções e comportamentos. Claro que com esta capacidade de modificar a memória e controlar o comportamento vem algumas questões éticas e sociais graves. Quem deve se envolver nesse tipo de atividade? E ainda, deveríamos banir esta prática?

REFERÊNCIAS

Bernstein, D. M., Laney, C., Morris, E. K., & Loftus, E. F. (2005). False beliefs about fattening foods can have healthy consequences. Proceedings of the National Academy of Sciences, 102, 13724–13731.

Clifasefi, S.L.., Bernstein, D.M, Mantonakis, A., & Loftus, E.F. (2013).  “Queasy does it”;  False alcohol beliefs and memories may lead to diminished alcohol preferences.    Acta Psychologica, 143, 14-19.

Nathan, D.  (2011)  Sybil Exposed.   NY: Free Press.

ElizabethLoftusTradução de Rodrigo Coutinho Carril, advogado criminalista.

Redação

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