Ataque a escolas: boatos no WhatsApp criam pânico entre pais e alunos
Mensagens de WhatsApp contendo milhares de imagens, áudios e vídeos sobre supostas ameaças de ataques em escolas têm causado alarme entre pais, professores e crianças.
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Essas mensagens incluem listas de escolas e estados onde os ataques podem ocorrer, além de informações sobre supostos agressores. Isso tem deixado muitos pais com medo de enviar seus filhos para a escola e levado as crianças a pedir para ficar em casa.
No entanto, muitas das ameaças compartilhadas são falsas, segundo as secretarias de segurança de São Paulo e Espírito Santo.
As polícias estaduais e o Ministério da Justiça estão trabalhando para combater ameaças reais que foram registradas. O compartilhamento dessas mensagens amplia o risco de agressões reais acontecerem, e especialistas recomendam que as pessoas não compartilhem esses boatos.
A Secretaria de Segurança de São Paulo (SSP-SP) garante que investiga todos os casos de ameaça e que as diretorias das escolas estão alertas e mantêm contato com a Polícia Militar. A secretaria também pede às pessoas que evitem compartilhar boatos não confirmados e lembra que a divulgação de informações sobre ameaças pode incentivar a ocorrência de novos casos, conhecido como “efeito contágio”.
A advogada Ana Paula Siqueira destaca que compartilhar notícias falsas é um crime e que os responsáveis por disseminá-las são tão culpados quanto quem as criou.
Se um vídeo falso, como uma ameaça de bomba em um estádio de futebol, for compartilhado e causar pânico resultando em danos físicos, aqueles que compartilharam o vídeo também podem ser responsabilizados.
O WhatsApp afirma que não tem acesso ao conteúdo criptografado dos usuários, mas incentiva os usuários a denunciar condutas inadequadas e conteúdo ilegal através da opção “Denunciar” ou enviando um e-mail. A empresa coopera com as autoridades fornecendo dados disponíveis em conformidade com a legislação aplicável.
Embora a idolatria a atiradores seja comum em comunidades de adolescentes radicalizados, os pesquisadores notaram um comportamento diferente em novas contas e publicações após os recentes ataques, sugerindo que não são apenas esses adolescentes que estão criando esse novo conteúdo.
De acordo com Letícia Oliveira, editora do site El Coyote, que monitora grupos de adolescentes admiradores de autores de ataques a escolas há 11 anos, houve um aumento de posts com um perfil totalmente diferente do postado pelos adolescentes radicalizados, posts que fogem muito da dinâmica que encontramos nesses grupos.
Oliveira aponta que muitas das supostas ameaças que estão sendo divulgadas em postagens alarmistas reutilizam as mesmas fotos retiradas de sites como Pinterest ou do buscador Google Imagens. Ela também afirma que o conteúdo que surgiu com esse aumento repentino de atividade online sobre ataques nas escolas emprega uma linguagem muito diferente da usada pelos adolescentes, com gírias e formas de falar que lembram muito mais as usadas por facções criminosas.
Oliveira destaca que os adolescentes que participam de comunidades de admiradores de agressores não estão por trás de grande parte das supostas ameaças circulando em boatos nesta semana e que eles não atuam de forma coordenada.
O ministro da Justiça e Segurança Pública se reuniu com representantes de redes sociais para debater o combate às comunidades online que incitam ataques em escolas
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou que sua pasta está trabalhando para evitar que qualquer ataque aconteça nas datas de supostos ataques, segundo apontaram boatos. Na segunda-feira, ele se reuniu com os representantes de redes sociais para debater o combate às comunidades online que incitam ataques em escolas.
O Twitter afirmou que o compartilhamento de fotos de agressores não viola suas políticas de uso, enquanto o TikTok disse que está trabalhando agressivamente para remover conteúdo que possa causar pânico ou validar farsas, além de restringir hashtags relacionadas.
O Ministério está preparando medidas para obrigar as plataformas a combater esse tipo de conteúdo, mas não se sabe se o combate ao pânico gerado por boatos foi discutido na reunião.
A Secretaria de Segurança Pública do Espírito Santo afirmou que as notícias sobre possíveis ataques em escolas locais, propagadas pelas redes sociais, são falsas e visam apenas causar pânico.
Embora monitore os casos, a pasta informou que não há ameaça ou alerta concreto no momento e que, caso haja, será comunicado por eles. A Secretaria enfatizou a importância da atuação das plataformas de tecnologia e do fortalecimento das ações governamentais.
Boatos sobre supostas ameaças feitas a universidades também foram compartilhados em grupos, mas a maioria não foi confirmada. Alguns episódios de violência podem ser divulgados como atentados sem confirmação.
A Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina está preparando material para divulgar cuidados e atenção que os pais devem ter.
Fonte: BBC