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Canibalismo e serial killers

Canibalismo e serial killers

As práticas canibais, ou antropofágicas, são tão antigas quanto a humanidade. Foi um historiador grego (séc.V a.C.), o primeiro a analisar e classificar o fenômeno do canibalismo.

Cunhou o termo antropofagia – a fusão de antropos, que significa homem, e phagein, comer, e até hoje é a palavra utilizada para designar o ato de comer carne humana. Ao longo da história, muitas culturas sancionaram e ritualizaram o consumo da carne humana.

Atualmente, o canibalismo é proibido, já que sua prática requer tanto o homicídio quanto a profanação de cadáveres. Ainda assim, por mais bizarro que pareça na sociedade moderna, o canibalismo não é particularmente raro entre os serial killers, particularmente pelos assassinos com motivos sexuais sádicos.

No antigo México, os astecas sacrificaram e canibalizaram cerca de 15 mil vítimas por ano, o imperador Moctezuma preferia comer os mesmos meninos que escolheu para dividir sua cama. O assassino canibal Albert Fish também preferiu a carne de crianças, enquanto o californiano Edmund Kemper devorou partes de pelo menos duas vítimas.

Existe um caso registrado de assassinato em série e canibalismo cometido como atos de vingança. Envergonhado pelo assassinato de sua esposa por membros da tribo indígena, o caçador John Johnston travou uma vingança impiedosa, matando dezenas de membros da tribo e devorando seus fígados ainda quentes, crus, como um gesto de desprezo.

Canibalismo nem sempre é um ato sexual. Para alguns, pode ser um modo de sobrevivência. Quando Stalin mudou o sistema agrícola da União Soviética, milhares de pessoas morreram de fome na Rússia nos anos 1930. Essa história se repetiu vinte anos depois na China.

Nos dois locais, vários casos foram relatados (incluindo pais que comeram os próprios filhos), porém as autoridades responderam de maneiras diferentes, na URSS os canibais foram punidos e na China, aplaudiram os atos de canibalismo, especialmente quando as vítimas eram membros da velha guarda “reacionária”.

Andrei Romanovich Chikatil nascera na Ucrânia em 1936,em tempos de fome, quando morreram milhões de pessoas, seu irmão mais velho Stepan havia sido sequestrado e comido.

A infância Chikatilo fora muito difícil, porque seu pai tinha sido um prisioneiro de guerra e sua mãe tinha-se encarregado de cuidar de uma irmã de 7 anos mais jovem. Andrei também assistira cenas da guerra bem de perto, os corpos o amedrontara, ao mesmo tempo provocara choque e curiosidade.

Sabe-se também que, Chikatilo sofrera de enurese até os 12 anos, pelo qual fora duramente reprimido e humilhado por sua mãe. Em resumo, a casa de sua família consistira num pai ausente, pouco comunicativo e indiferente aos filhos e uma mãe, extremamente super protetora, muitas vezes agressiva e era emocionalmente instável.

Como todos os cidadãos soviéticos, ele servira no exército e também se dedicara aos estudos, obtendo três diplomas: em língua e literatura russas, em engenharia e em marxismo-leninismo.

Em 1971, um diploma universitário deu-lhe o grau de professor e começara a dar aulas para crianças. Ele sentira uma atração crescente por aqueles com menos de doze anos, e chegara a entrar nos quartos para vê-los enquanto se masturbava com a mão dentro do bolso.

Andrei Romanovich Chikatilo também desenvolvera um grande desprezo em relação ao sexo feminino, que o rejeitara, devido seu comportamento introvertido, sua impotência sexual e ejaculação precoce. Exteriorizara desejos de vingança, com um ódio sistemático para as mulheres, a sociedade em geral e os indefesos. Considerado um psicopata sexual com impulsos sádicos, que praticava o canibalismo.

Era conhecido como “o Açougueiro de Rostov”, vivera uma vida dupla: como trabalhador casado e membro da sociedade comunista, e como um assassino dotado de grande capacidade de conquistar a confiança das crianças e gozar com impunidade de seus horrendos crimes. Chikatilo confessara 53 assassinatos.

Durante longos anos de investigações, na procura do assassino canibal que aterrorizava a sociedade, um psiquiatra, o dr. Aleksandr Bukhanovsky, fornecera um perfil aos investigadores. O médico construíra dois perfis, um inicial quando se tinha poucos dados dos crimes e um segundo fora feito devido novas mortes e novas informações do caso.

(…) descreveu o assassino em série como alguém que tinha controle das suas ações, narcisista e arrogante. Como muitos criminosos desse tipo, achava-se mais talentoso do que realmente era e desmerecido por seus pares. Segundo o psiquiatra, ele não era criativo, mas seguia um plano prévio de ação. Era heterossexual, sádico e necrófilo. Primeiro atingia a cabeça das vítimas, surpreendendo-as e evitando qualquer reação, iniciando então o processo de atingi-las com inúmeras facadas, que simbolicamente significavam penetrações sexuais. Masturbava-se…. Emasculava os meninos para feminizá-los e quando fazia isso com as meninas manifestava-se seu poder sobre elas. Provavelmente guardava seus órgãos sexuais extirpados ou os ingeria. (CASOY, 2014)

Em 1990, Chikatillo fora capturado pela polícia ao tentar acrescentar mais uma criança a sua lista. Em seu apartamento encontraram diversas facas e instrumentos que utilizara nos assassinatos, dentre outras provas. Andrei não confessara imediatamente e chegou a alegar insanidade mental.

O psiquiatra que realizara seu perfil anteriormente, foi requisitado para ajudar na entrevista com o assassino. O médico citou o perfil que fizera para o canibal, que de certo modo teve uma função que facilitara as confissões dos crimes.

Andrei descrevera detalhadamente todos seus métodos e técnicas para matar as 53 pessoas, ele lembrava de datas, locais, vestimentas das vítimas. Estas eram escolhidas com cautela, estavam em estações de ônibus e trens, após uma conversa bem articulada, eram levadas para algum lugar onde não teria testemunhas de sua morte desumana. Chikatilo não falara sobre a motivação da ingestão de partes dos corpos.


REFERÊNCIAS

CASOY, I. Serial Killer: made in Brasil. Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2014.

NEWTON, M. The Encyclopedia of Serial Killer. Second Edition. Ed. Checkmark Books, 2006.

Clarice Santoro

Especialista em Psicanálise, Saúde Mental e Criminal Profiling. Psicóloga.

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