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Caso Felipe Prior (ex-BBB20) e os supostos crimes sexuais

Caso Felipe Prior (ex-BBB20) e os supostos crimes sexuais

Há poucos dias, no reality show de maior sucesso da Rede Globo, noticiou-se a eliminação de mais um candidato ao prêmio de um milhão e meio. Para surpresa da própria produção do programa a votação alcançou pouco mais de um bilhão e meio de votos, mobilizando artistas, influenciadores e até grandes nomes do futebol mundial. Tudo isso colaborou para os quinze minutos de fama de FELIPE PRIOR, a mais nova “celebridade” das redes sociais, atualmente com mais de cinco milhões de seguidores na rede social Instagram.

Tudo vinha bem, até que, três dias após a eliminação, antes mesmo de o rapaz conseguir aproveitar a sua “celebrização instantânea” a mídia divulga para o mundo inteira o suposto envolvimento do rapaz em crimes de natureza sexual. Segundo a matéria, um dos supostos crimes teria ocorrido em 2014, há aproximadamente seis anos atrás.

Dito isso, abro um parêntese: que sejam apurados os fatos, com observância ao devido processo legal e sejam tomadas todas as medidas que a justiça entender necessário, ainda mais tratando-se de crimes sexuais contra as mulheres. Condene-se quem tiver que condenar e absolva-se quem fez por onde. 

Caso Felipe Prior

O objetivo do texto não é discutir o mérito da acusação, mas sim, os impactos que a mídia, a partir de um prisma individual, podem gerar para o resto da vida de um cidadão. Há poucos meses atrás noticiou-se o suposto envolvimento do jogador Neymar em crimes sexuais. Graças a seus brilhantes advogados e à postura do próprio jogador em gravar o ocorrido, tudo foi esclarecido e o processo foi encerrado. Mas e até chegar lá? Nesse ínterim, o jogador perdeu patrocínios, foi ridicularizado nas redes sociais, ouviu protestos da sua própria torcida e ficou afastado dos trabalhos esportivos até que fosse tudo esclarecido.

Esse é o ponto crucial da questão. A (i)rresponsabilidade dos veículos midiáticos na divulgação de supostos crimes, com investigação em andamento, causando um pré-julgamento e a condenação de pessoas que sequer tiveram a oportunidade de dar sua versão aos fatos. Com a máquina midiática não há presunção de inocência, exigência de trânsito em julgado e princípio do contraditório.

E o pior, quando o caso é encerrado com desfecho positivo para o acusado, a mídia não faz a mínima questão de dar espaço para a notícia. Não lembro de ter visto uma manchete: “Provada a Absolvição de Pedro, acusado injustamente por crime de homicídio”, no máximo uma nota em fonte 6, próximo ao rodapé da página. 

Mesmo em casos que envolvam anônimos a situação é extremamente complicada, ainda mais em tempos em que as redes sociais são tão alvoroçadas pelos discursos de ódio e polarizações. Atira-se alguém na fogueira e: “se queimar, queimou”. Quando não se tem bons advogados e o poder de mobilização não é tão grande como no “Caso Neymar” é um contra todos e, cá pra nós, essa batalha é muito injusta.

Essa é a crítica ou talvez a reflexão que procuro fazer com cada um dos leitores: Qual a responsabilidade da mídia com os impactos causados pela exposição do indivíduo? Qual a nossa colaboração pessoal com o linchamento público daqueles que são atirados aos leões sem a possibilidade de defesa? O contraponto é SEMPRE necessário. Digo mais, é IMPRESCINDÍVEL.

A partir disso, deixo a conclusão para cada um de vocês, salientando que, todos, sem exceções, possuem o direito de se defender dos fatos que lhe são imputados, independente da situação, seja uma conduta criminosa ou uma simples informação às avessas.

Por fim, reitero que todas as denúncias relativas ao ex-BBB devem ser apuradas e, caso comprovadas, sejam impostas as sanções legais. A presente discussão trata única e exclusivamente sobre a postura midiática e sua responsabilidade, não tendo o mínimo suporte fático acerca das condutas imputadas ao rapaz e, portanto, não possui a pretensão de realizar juízo de valor sobre o caso.


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