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A caverna de Platão – para um pensamento mais humanista

A caverna de Platão – para um pensamento mais humanista

O presente texto oportuniza uma análise comparativa e filosófica tocante à ideia do mito da caverna de Platão e a necessidade de uma reflexão da vida – Filosofia Socrática.

Para iniciar a peregrinação da filosofia, imaginada como ponto de partida e a comparação com situações concretas, é necessário descrever o que Platão (2002), em A República, no livro VII, ilustrou como o “mito da caverna”.

O mito da caverna de Platão

Platão supõe a seguinte situação: dentro de uma habitação subterrânea, na sua forma de caverna, vivem alguns homens, que estão lá dentro desde sua infância algemados, com suas pernas e pescoços acorrentados. Os homens podem apenas permanecer no mesmo lugar, com o olhar para frente, incapazes de virar a cabeça.

Para iluminar a caverna, existe apenas ao longe uma fogueira, que, aproveitando sua luz, projeta imagens nas paredes através das sombras de estátuas, que representam pessoas, plantas, objetos e animais demonstrando cenas do dia a dia. Assim, os prisioneiros ficam analisando e julgando as situações que estão se deparando (por sombras).

Imagine agora que um dos prisioneiros fosse capaz de se soltar das correntes que o aprisionavam, para percorrer todo interior da caverna e também do mundo externo. Imagine que o prisioneiro se desse então conta de que ficou a vida analisando e julgando apenas aquilo que lhe transmitia através de imagens e sombras.

E se esse mesmo homem voltasse à caverna e compartilhasse aos seus companheiros todas as suas experiências e a situação enganosa em que todos estavam sendo submetidos? Certamente seria ridicularizado, pois seus colegas somente acreditariam naquilo que conseguem enxergar dentro das iluminações que a caverna oferece.

Com o mito da caverna, Platão quis dizer que os seres humanos, enquanto “presos” naquilo que estão vendo, estão diante de uma realidade distorcida, criada e imposta para crer como verdade, como, por exemplo, a cultura, notícias, crenças, preconceitos, etc.

Se o homem apenas se limitar – diga-se, sem se desacorrentar –, passará a vida inteira sem notar a realidade. Somente é possível enxergar o mundo pela liberdade do pensamento para se desprender das influências e, assim, abandonar a caverna.

Dito isso, necessário perceber que se torna um grande desafio “sair da caverna”, explorar o mundo, buscar suas próprias convicções e não se limitar ao ver somente o problema, ignorando as causas. Deve-se perceber que a vida é mais que sombras e imagens reproduzidas.

Para tanto, o objetivo é fazer a análise do mito da caverna de Platão com o comportamento da sociedade/indivíduo, ao fazer juízo de valor com o indivíduo taxado de criminoso dentro ou fora do sistema prisional.

Quando são transmitidos por veículos de informações, seja quais forem, notícias de crimes cometidos e a identidade dos “criminosos”, o ouvinte subitamente já desfere seus gritos e apelos por “justiça“.

Ela julga um problema ou um fato que envolve o outro a partir da sua realidade, tomando aquilo como verdade. Por isso, deseja que o outro seja preso e “pague” pelo que fez, ainda que isso signifique jogá-lo à margem da sociedade e integrá-lo ao sistema prisional.

Abre-se um parêntese para destacar que cada caso deve ser analisado com cuidado. Existem leis a ser cumpridas e procedimentos a ser realizados. E, por óbvio, o leitor pensaria:

Sim, se existe cadeia, leis e justiça. Esse indivíduo deve mesmo pagar pelo que fez!

Porém, a abordagem do texto requer uma indução de pensamento um pouco mais profunda e emancipadora, qual seja, ver além, como indivíduo e como sociedade. O Judiciário possui todas as ferramentas para julgar e condenar alguém e já faz seu papel, mas a ‘”conversa”, agora, é mais humanista.

É preciso refletir que a sociedade não consegue sair da “caverna”. Não é com facilidade que percebem que os problemas sociais sofridos (aquelas condutas criminosas) são reflexos de causas mais profundas e íntimas.

Significa dizer que, ao tomar conhecimento sobre o fato, não basta formular um “juízo final” para o outro. Deve-se questionar: Quais sombras refletem sobre a conduta tomada por esta pessoa? O que levou ele a cometer um crime? Qual é o seu passado para gerar essas atitudes no presente?

Abrir o pensamento para, então, perceber que existe algo muito além daquilo que se pode ver aos olhos nus, é identificar o outro como semelhante, para poder perceber que a empatia é a chave para o respeito aos direitos humanos.

Sair da caverna é para além de explorar o pensamento; é identificar a sua humanidade para com o outro; é parar de julgar a conduta do outro, reparar as próprias condutas e, assim, ganhar a iluminação das ideias fora da caverna.

Para finalizar, imprescindível citar Sócrates quando diz “uma vida irrefletida não vale a pena ser vivida”. Como é possível induzir uma reflexão para aquele que vive na caverna sem conseguir enxergar a luz do mundo?


REFERÊNCIAS

PLATÃO. República. Tradução de Enrico Corvisieri. Rio de Janeiro: Best Seller, 2002.


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Ana Flávia Silveira

Pós graduanda em Filosofia e Direitos Humanos.

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