Artigos

Cinco pensamentos de um advogado criminalista sobre crimes revoltantes

Por Anderson Figueira daRoza

Esta semana resolvi revelar aos queridos leitores com muita seriedade e transparência como um advogado criminalista vai organizando seus pensamentos diante de tantas notícias no Brasil e no mundo envolvendo crimes muito violentos e repugnantes.

Como premissa básica é preciso que se diga em alto e bom tom para a sociedade que advogados criminalistas não torcem pela ocorrência de crimes, nem pela vida de criminosos. Nossa profissão é muito mais séria e muito maior do que atos cruéis e bárbaros que tomamos conhecimento na sociedade.

Então a primeira revelação que faço aos senhores é que um advogado criminalista sofre tanto quanto qualquer outra pessoa diante de notícias de crimes passionais com toques de crueldade, de crimes de estupro seguido de morte contra crianças e efetuados por familiares que deveriam estar lhes protegendo, que jovens perdem suas vidas em guerras do tráfico de drogas e despedaçam suas famílias, de filhos que estão sendo assassinados por banalidades, logo, tenham muito claro que somos totalmente contra a violência, que se tais atos violentos deixassem de existir, ainda sim teríamos muito trabalho e sobreviveríamos diante da pluralidade de crimes menos violentos que existem na legislação nacional que fomentam as varas criminais do país.

A segunda revelação é que não temos resposta para tudo que envolve um crime e o seu criminoso, a cabeça de um ser humano é muito mais complexa do que tudo que já foi escrito sobre ela nas ciências da psicologia, da psiquiatria, e da criminologia, logo as barbaridades de crimes violentos existem desde o início da humanidade, o ser humano é assim.

Como a população brasileira e mundial é cada vez maior, naturalmente percebemos a incidência de crimes horripilantes com mais frequência, porém, estes delitos existem até em locais que tem penas de morte, acreditem.

A terceira revelação é que em alguns casos as vítimas que felizmente sobrevivem a estes crimes violentos ou os seus familiares buscam os serviços de um advogado criminalista porque não se contentam de ter somente a polícia atuando no inquérito policial ou apenas o ministério público acusando no processo criminal, e que diante disso os advogados criminalistas acabam utilizando todo o seu conhecimento exatamente no mesmo sentido que a sociedade horrorizada está hoje em dia com a violência.

Sob esse prisma, a advocacia criminal deveria ser vista com mais respeito pelos seus críticos. Logicamente, estamos vivendo num mundo de velocidade instantânea, e com a proliferação das redes sociais, qualquer um pode manifestar-se livremente sobre qualquer assunto, e em especial sobre os crimes extremamente violentos. Faz parte da natureza humana esta necessidade de discussão, que infelizmente não fica restrito ao campo técnico das pessoas que realmente trabalham com a área penal.

A quarta revelação é que o advogado criminalista também é um ser social, tem amigos e família, ele e seus entes queridos também podem ser alvos de qualquer crime bárbaro, e sofrerá tanto quanto qualquer outra pessoa diante de uma crueldade. Logo, o advogado criminalista na condição de vítima de um delito hediondo terá a mesma vontade de que o delinquente responsável pelo seu sofrimento tenha a pior pena possível.

Porém, passado o calor dos fatos, ele entenderá mais facilmente que a sociedade evoluiu e que muita gente também morreu no caminho do que se construiu até hoje, e para que uma pessoa possa ser responsabilidade e condenada precisa de um processo penal, que fatalmente leva algum tempo para ser finalizado e que não pode ser atropelado e nem violentado pela emoção de quem quer que seja.

A quinta e última revelação é que o advogado criminalista é o único profissional que não pode deixar de acreditar que a humanidade tem jeito, tem futuro, e que não devemos colocar a emoção como justificativa para a volta do tempo de vingança, da justiça com as próprias mãos. Em outras palavras, a ira que se sente não deve ser o combustível para que a vítima passe a ser o agressor.

Afinal ainda não assistimos no Brasil homens que jogam aviões contra prédios, ou outros homens que explodem trens ou metrôs, isto é, plagiando Thomas Hobbes, embora pareça que estejamos numa constante guerra de todos contra todos, os homens tem um desejo, de acabar com a guerra, e por isso formam sociedades aderindo a um contrato social.

AndersonFigueira

Anderson Roza

Mestrando em Ciências Criminais. Advogado.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo