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Como seria uma sociedade sem advogados criminalistas?


Por Anderson Figueira da Roza


Esta coluna é dedicada àquelas pessoas que não suportam ouvir falar que existam advogados criminalistas. A sociedade brasileira em geral está estarrecida diante dos noticiários diários envolvendo a violência urbana principalmente. Logo, é compreensível que, quando se fala em criminoso, a associação imediata da população é com bandido, e se pensa invariavelmente em assaltantes violentos, assassinos e estupradores.

Nesta linha de raciocínio, se entende perfeitamente que haja uma confusão entre o cliente e o advogado por ventura contratado para a sua defesa. Porém, deturpar a imagem do profissional é algo abominável, perverso e desproporcional ao seu trabalho, que jamais deve ser interpretado como preventivo, por exemplo, onde ele orientaria uma pessoa a cometer um crime para que não houvesse consequências criminais. Se assim fosse, realmente teríamos condutas convergentes entre cliente e advogado, mas, na prática, não é desta forma que as coisas acontecem.

Na grande maioria dos casos, o que ocorre primeiro é o crime, após há uma investigação onde se apura a autoria e após a identificação do(s) suspeito(s) com as consequentes medidas que a polícia tem a sua disposição é que poderá ou não um advogado ser contratado por possíveis acusados. Então, logicamente, o advogado só toma conhecimento do caso após ele ter sido cometido. E depois dele ser contratado, ele vai estudar a viabilidade de defesa, se há ou não, e verificar se todos os procedimentos legais estão sendo cumpridos no restante da apuração dos fatos, e também no decorrer do processo criminal que será iniciado.

Agora você que não admite a ideia que possam existir pessoas que são advogados criminalistas? Imaginem por um segundo como seria a sociedade sem estes profissionais. Pense num modelo de apuração de crimes, de processos criminais em que as pessoas acusadas não tivessem a possibilidade de defesa, e a condenação fosse imediata e de preferência com prisões perpétuas ou penas de morte.

Por outro lado, você que odeia as notícias de crimes quando aparece um advogado com aqueles miseráveis segundos quase sempre ao final da matéria, relativizando ou apresentando alguma ideia contrária ao que está ali sendo noticiado. Imagine então que num determinado dia, você ou alguém que você realmente ame estivesse sendo acusado equivocadamente de uma acusação, o que você faria se não houvesse a possibilidade de contratar alguém para defender esta pessoa que você ama ou a você mesmo?

Neste mundo imaginário, ainda bem, os fatos simplesmente seriam processados e julgados somente diante do modo em que são feitas as acusações, a você caberia apenas aguardar e cumprir o veredito. Pois bem, a dor nos ensina a entender o que tanto nós odiamos em ver nos outros, quando você é atingido diretamente.

É para isso que nós os advogados criminalistas existimos, para demonstrar que nem sempre as coisas são exatamente como noticiadas, eu falei “nem sempre”, por isso tenha cuidado em nos criticar como defensores, pois se um dia precisar de algum de nós, certamente vai sentir a tristeza de ver como é complicado ter o aparato estatal contra você ou contra alguém que você ame.

AndersonFigueira

Anderson Roza

Mestrando em Ciências Criminais. Advogado.

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