O Problema da Cracolândia: Como chegamos até aqui?

Centenas de pessoas se aglomeram 24 horas por dia em um ambiente caótico. Alguns carregam seus pertences em carrinhos de supermercado, enquanto outros vagueiam sem rumo com um olhar perdido. Todos ali são atraídos pela mesma coisa: o crack. Estamos falando sobre a área apelidada de Cracolândia, que ocupa um local no centro de São Paulo.

Esta região tem sido o foco de notícias nacionais e internacionais por décadas. O número de pessoas que se concentram lá varia significativamente até mesmo em um único dia. Mas como exatamente a Cracolândia chegou ao ponto em que está hoje?

LEIA MAIS:

Polícia prende suspeito de estupro que mandou mensagem para vítima e debochou da Justiça

STF autoriza e FBI deve cooperar com a PF em investigação do caso das joias

A origem da Cracolândia

A BBC News Brasil conversou com especialistas, moradores e ex-usuários para entender como a Cracolândia nasceu e por que ela nunca foi desmantelada. Em algum momento, o maior agrupamento de usuários, conhecido como “fluxo”, mudou inúmeras vezes de lugar. A presença do fluxo causa desvalorização imobiliária, queda nas vendas do comércio local e aumento da insegurança devido ao medo de roubos por parte dos moradores.

Por que nunca foi desmantelada?

Recentemente, o governador de São Paulo anunciou que migraria essa concentração de usuários para outro bairro, mas logo recuou. Moradores locais, como Glória (nome fictício), lembram quando a região era considerada nobre, com comércios e serviços abundantes, antes da emergência do problema do crack.

Já na década de 1990, os primeiros usuários de crack se instalaram na Cracolândia. Nessa época, o bairro de Campos Elíseos havia sido planejado para ser uma região nobre da capital paulista, idealizado para abrigar os barões do café.

O que agravou a situação?

Porém, a região viu uma forte mudança com a inauguração da rodoviária do Tietê, a maior da América Latina, em 1982. A chegada em massa de migrantes vindos de outras regiões do país transformou o bairro, atraindo o comércio popular e se tornando um movimentado, popular e poluído ponto de encontro. O esvaziamento repentino dos estabelecimentos e a ocupação dessa área por pessoas em situação de rua tiveram um profundo impacto na região.

A tentativa de atrair a classe média de volta para a região com a inauguração de espaços culturais também não obteve sucesso. Campos Elíseos, antes um bairro considerado nobre, tornou-se um conhecido ponto de prostituição e consumo de drogas, conhecido como Boca do Lixo.

É possível encontrar uma solução?

Diante disso, o desafio agora é encontrar uma solução para a Cracolândia. Aluízio Marino, urbanista e pesquisador, sugere o uso de estratégias novas e inovadoras, como fornecer moradia e emprego para os usuários de drogas. A conclusão é clara: a situação na Cracolândia é complexa e requer uma abordagem humanizada e estruturada para resolvê-la.