Compreendendo a fascinação por True Crime: Nosso gosto coletivo pela violência
O crescimento do gênero “True Crime”
É inegável: nos últimos anos, poucos gêneros se tornaram mais populares do que o “True Crime“. Muitas histórias conquistaram milhares de fãs devido a uma premissa um tanto mórbida: todos os elementos de um crime retratado realmente aconteceram na vida real.
Contudo, o que leva uma pessoa a gostar de assistir cenas terríveis de sofrimento alheio? O que explicaria esse nosso gosto coletivo pela violência?
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Atração pela violência: uma tendência antiga
Embora a febre pelos livros, séries e filmes do gênero True Crime tenha se intensificado recentemente, esta não é uma “onda” nova. Relatos de crimes e assassinatos já apareciam em livros bíblicos e a imprensa sempre explorou essa pulsão pela violência ocorrida no mundo real. As execuções públicas realizadas pelo Estado eram eventos públicos que reuniam grandes grupos para testemunhá-las em primeira mão.
Além disso, a televisão sempre explorou a violência dos crimes reais de maneira muito incisiva. Pouco importava se essa exploração era ou não de interesse das famílias envolvidas. Muitas vezes, o True Crime serve mais para satisfazer algum tipo de prazer mórbido que não sabemos explicar bem de onde surge.
Por que gostamos tanto de True Crime?
True Crime: um gosto que vai além da explicação racional. Se você é um dos muitos adeptos das narrativas do gênero, pode associar seu fascínio com a ideia de controle, de se sentir menos vulnerável vendo a desgraça alheia. Talvez você tenha algum interesse científico, querendo saber mais sobre o que a mente humana é capaz de fazer.
O mestre do terror Stephen King escreveu que as pessoas costumam ter, na mesma medida, interesse, curiosidade e repulsa pelo macabro. As narrativas do gênero True Crime provocam essa espécie de atração controversa: gostamos dessas histórias à mesma medida que as odiamos – tanto que aquilo aconteceu de fato, quanto na constatação de que isso nos atrai instintivamente.
True Crime: banalização da violência?
O psicanalista Christian Dunker explicou que o gênero True Crime aciona uma pulsão que vai além do que poderia ser explicado por nossa mente racional. Assistir a cenas de crime gera uma satisfação indireta, um alívio por não ter sido você a vítima. Esse tipo de “recompensa” pode levar a uma dependência desse tipo de conteúdo.
Contudo, essa exposição excessiva a histórias de crimes pode levar à banalização da violência e da morte. “Por mais que a gente possa discutir se sim, se não, motivos, razões e causas, ainda há um morto”, conclui Dunker. Desta forma, há um risco de que os crimes narrados sejam arrastados para a esfera da ficção: quanto mais acessamos histórias de crimes reais, menos reais eles parecem ser. Em uma sociedade como a nossa, já tão familiarizada com a violência, isso é bastante preocupante.
É importante, portanto, ter em mente que apesar do fascínio despertado pelas histórias de True Crime, estamos lidando com um fenômeno delicado. À medida que consumimos, é essencial lembrar que as histórias que estamos vendo ou lendo são reais, que envolvem sofrimento real, e não devem ser tratadas de maneira banal ou desrespeitosa.
Fonte: TecMundo