Crescimento do True Crime: detalhes da fórmula do sucesso e debates éticos no gênero
O interesse por documentários, reportagens e séries que exploram crimes reais, conhecido como true crime, tornou-se um fenômeno em constante crescimento. Tal gênero tem se consagrado como ótima oportunidade de negócio para os realizadores e está presente em todos os serviços de streaming.
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True Crime: um fenômeno em ascensão
‘Isabella: O caso Nardoni’ acumula mais de 9 milhões de horas assistidas. Esse longa metragem figura em primeiro lugar entre os filmes de língua não inglesa mais vistos da plataforma nas últimas duas semanas.
Outro grande exemplo de sucesso no true crime foi o documentário ‘Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez’, da HBO Max. Em apenas um mês após a estreia, tornou-se a produção original mais assistida do serviço de streaming no Brasil.
A fórmula do sucesso
Esses documentários exploram crimes que geraram grande comoção nacional, e segundo o professor Noel Carvalho, do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (IA – Unicamp), isso é exatamente o que compõe a fórmula do sucesso do gênero. As produções reatualizam a espetacularização desses eventos, despertando o interesse da audiência, que já conhece o desfecho da história.
Os limites éticos do True Crime
Entretanto, algumas discussões importantes foram destacadas a partir do lançamento de ‘Isabella: O Caso Nardoni’, que levanta a questão das produções deste gênero precisarem, obrigatoriamente, trazer novidades sobre o caso ou se elas apenas servem como um gênero de “entretenimento”. E quais os limites éticos do interesse por crimes reais?
Em se tratando do quesito ético dessas produções, o professor Noel Carvalho aponta alguns pontos. Ele ressalta que o true crime pode ser antiético dependendo de como as pessoas envolvidas são retratadas. Animalizar ou desumanizar essas pessoas, além de desrespeitoso com os envolvidos, estaria fidelizando o público de maneira emocional. A partir disso, o especialista acredita que, mesmo havendo uma dramatização desses casos ao serem transpostos para a TV ou outras plataformas, isso não seria necessariamente um problema desde que seja feito com qualidade e complexidade.
True Crime e as redes sociais
Nas redes sociais, um território mais obscuro envolvido com o interesse por crimes reais ganha força, principalmente no TikTok, com o uso de inteligência artificial. Atualmente, crescem os perfis que usam a tecnologia para criar deepfakes, um técnica que copia rostos e vozes para gerar desinformação, de maneira que as próprias vítimas contam (falsamente) seus próprios casos por meio desses rostos e vozes copiados.
Porém, o especialista Noel Carvalho alerta que essas publicações se distanciam do que é produzido com o true crime, avançando mais para o lado da morbidez. André Vilela Komatsu, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV – USP), também pontua que esta prática gera revitimização de familiares e vítimas.