Crime do Restaurante Chinês gerou debate sobre racismo em 1938 no Brasil
1938: O intrigante caso dos assassinatos no restaurante chinês “Órion”
Em março de 1938, a capital paulista foi palco de uma chocante cena de crime. Quatro pessoas foram assassinadas brutalmente no restaurante Órion, um conhecido reduto chinês na cidade. Esse evento desencadeou uma grande repercussão e colocou em evidência a questão do preconceito racial, já que o principal suspeito dos homicídios era um homem negro.
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Um dia trágico no restaurante chinês
Localizado próximo à Praça da Sé, o restaurante chinês era de propriedade de Ho-Fung, imigrante chinês que construiu sua vida no Brasil desde 1926. Na manhã do dia 2 de março, Pedro Adukas, um dos cozinheiros do estabelecimento, encontrou um cenário aterrorizante. Seus colegas de trabalho, José Kulikevicius e Severino Lindolfo Rocha, jaziam mortos no chão do salão, com os rostos desfigurados. Em outra área do restaurante, o próprio patrão Ho-Fung e sua esposa, Maria Akiau, também foram encontrados assassinados.
Quem poderia cometer tais crimes?
A princípio, as suspeitas recaíram sobre o irmão de Maria, João Akiau, e um amigo de Ho-Fung, Ho Det Men. No entanto, a investigação teve uma reviravolta quando um garçom do restaurante chinês mencionou um ex-funcionário, Arias de Oliveira, como possível responsável pelos crimes.
O suspeito Arias de Oliveira
Natural de Franca/SP, Arias tinha 24 anos e uma história de vida marcada por dificuldades. Filho de mãe solteira e abandonado pela mesma aos 10 anos, Arias mudou-se para São Paulo em 1937 buscando melhores oportunidades. Após a acusação, foi preso e tratado como “monstro” pela mídia, sendo submetido a exames antropo psiquiátricos que buscavam encontrar traços criminosos em seus aspectos físicos e psicológicos.
Os julgamentos e a absolvição
Arias insistiu em sua inocência, mas sob pressão policial, acabou confessando o crime. Seu caso foi levado ao Tribunal do Júri do Palácio da Justiça. Ao longo de um processo lentamente disputado, cujo rumo foi moldado pela Frente Negra Brasileira, Arias foi eventualmente inocentado por falta de provas em dois júris diferentes. Ainda assim, o Ministério Público recorreu dessas decisões. Em 1942, a 2ª câmara Criminal do Tribunal de Apelação finalmente confirmou a absolvição de Arias.
A disputa mediática que cercou o caso contribuiu para suavizar a percepção pública em relação a Arias. Uma comparação surpreendente com o famoso jogador de futebol Leônidas da Silva, um dos ídolos na Copa do Mundo de 1938, acabou conferindo a Arias um simbolismo menos ameaçador com o avançar do processo.
Hoje, as peças do processo estão expostas no Museu do Tribunal de Justiça de São Paulo. E Arias, depois de três absolvições, finalmente conseguiu o que tanto almejava: um emprego como motorista particular.