Quantos mais armas, menos criminalidade? Confira os mitos que envolvem a segurança pública no Brasil
Desvendando o fenômeno da criminalidade no Brasil
Com uma taxa de criminalidade alarmante e um sistema prisional sobrecarregado, o Brasil continua buscando soluções eficazes para enfrentar um problema que possui raízes socioeconômicas complexas. Especialistas e estudos recentes comentados pelo Estadão, no entanto, apontam que algumas das propostas mais populares, como o aumento das penas para determinados crimes e a facilitação do acesso a armas de fogo, são insuficientes para resolver a questão.
Essa complexidade se reflete em mitos e equívocos comuns que cercam o tema, resultando em uma percepção equivocada e em políticas ineficazes. Desmistificar esses mitos é o primeiro passo para definir estratégias abrangentes e eficazes de combate à criminalidade.
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Os recursos financeiros são uma solução para a criminalidade?
Outro mito comum é a ideia de que o investimento em recursos financeiros seja suficiente para conter os índices de criminalidade. Um estudo publicado por pesquisadores do Ipea, em dezembro de 2005, mostra que a alocação de dinheiro para segurança pública deve acompanhar discussões sobre sua eficácia e eficiência.
Posse de armas reduz a criminalidade?
Contrariamente ao que prega a narrativa de que uma população armada é uma população mais segura, um estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) concluiu que quanto maior a difusão de armas, maior a taxa de homicídios. O estudo apontou que, sem as medidas pró-armas, 6.379 homicídios teriam deixado de ocorrer entre 2019 e 2021.
Severidade das penas e criminalidade: Há uma relação direta?
Outra suposição comum é a de que penas mais severas coíbem crimes. No entanto, o fortalecimento de penas que se intensificou na década de 1990, com a Lei dos Crimes Hediondos, não foi acompanhado pela diminuição da criminalidade, como deveria ocorrer se essa suposição fosse verdadeira.
Segundo o pesquisador do Ipea, Daniel Cerqueira, a eficácia punitiva não deve ser encarada como uma solução mágica para a criminalidade. Em vez disso, é importante abordar o problema de forma ampla, observando suas causas sociais e econômicas subjacentes.
O Brasil é o país da impunidade?
Outra crença popular é a de que no Brasil impera a impunidade. No entanto, os números contam uma história diferente. No fim de 2022, a população carcerária brasileira era de 832,2 mil pessoas, um aumento de 257% desde o ano 2000. Falta, no entanto, uma política de punições que privilegie crimes graves e de grande potencial ofensivo.
Operações policiais frequentes acabariam com os traficantes?
As operações policiais frequentes e agressivas em comunidades pobres têm efeitos colaterais danosos e afetam uma parte pequena do crime organizado – alcançam apenas elos descartáveis das cadeias de crime, raramente atingindo o coração das organizações criminosas.
Finalmente, a melhoria dos indicadores de Desenvolvimento Humano (IDH) e a educação e saúde públicas não são, por si só, capazes de resolver a questão da criminalidade. O IDH do Brasil avançou significativamente nas últimas três décadas, mas isso não foi acompanhado por uma diminuição proporcional na criminalidade.
Em suma, os dados e estudos apontam que a criminalidade é um problema multifacetado, com raízes profundas e complexas na sociedade brasileira. Soluções simplistas e focadas apenas em um aspecto do problema são, portanto, inadequadas. Em vez disso, é preciso um enfoque sistêmico e multicamadas que leve em consideração toda a gama de fatores que alimentam e permitem a criminalidade.
Fonte: Estadão