Crônica do homicídio democrático
Crônica do homicídio democrático
Onyx, é o que eu chamo de xuxu, um sujeito sem gosto próprio que mimetiza o tempero de quem mais forte o cerca. Esperto, tratou de colar no Bolsonaro, que pelo visto achou muy conveniente ter os préstimos de um replicador particular. Onyx disse que as declarações polêmicas de Bolsonaro continuarão, porque “a população adora”. E assim jogam pipoca para o povo, cada vez mais implicante com os semelhantes, cego pelas pequenas disputas e pelos desejos mórbidos.
Em meio ao picadeiro, veio a declaração de Janot (com a colaboração de quem muito se desvirtuaram as regras e princípios processuais penais): disse o ex-Procurador Geral da República que, certa vez, preparou-se para assassinar Gilmar Mendes, mas na hora do vamos ver foi impedido por uma mão invisível. Que mão foi essa? A do bom senso, afirmou. Buenas, isso é coisa que facilmente se dilui pela vaidade. É que ninguém sabia o que ele estava prestes a fazer.
Foi assim que um integrante do povo da pipoca iniciou um abaixo-assinado para angariar apoio à consumação delitiva. E não foi difícil recolher quinze milhões de assinaturas favoráveis ao fim espetacular de Gilmar Mendes.
Janot não avisou ninguém. Não era conveniente avisar, a Polícia Federal já havia apreendido sua arma de fogo. Sem problemas, entrou de machadinha no salão do Pleno e, sabendo que a sessão era televisionada, esperou o melhor momento. Quando a mão invisível do interesse público, difuso e confuso, o empurrou, aproximou-se rapidamente de Gilmar Mendes e o golpeou na cabeça diversas vezes. Tão forte que o sangue espirrou no rosto do Ministro Barroso, que, sentado no extremo oposto da mesa com o semblante horrorizado, cuidou de pegar um lenço em meio a seus longos e delicados dedos, para se limpar sem perder a elegância.
A transmissão foi interrompida, mas alguém já havia posto no Youtube. Em 15 dias o vídeo chegou a 2 bilhões de views, convertidos em uma grana estupenda, que impulsionou a campanha de Janot para a Presidência. A prisão em flagrante foi convertida em preventiva, mas o povo enfurecido exigiu e ele foi solto. Instaurado, o processo criminal congelou, porque ninguém ousava contrariar a vontade da população. Afinal de contas, esse foi um homicídio democrático!
Janot se candidatou, e nada na Lei Complementar 64/90 o impedia, pois sua culpa não chegou a ser decidida por órgão colegiado. Foi eleito, jogando no ostracismo Bolsonaro, um sujeito que faz sinal de arminha com as mãos mas não atira em ninguém. Um bom professor, na realidade, pois evidenciou que o povo fica feliz em meio às polêmicas. Errou o “General”, pois ninguém valoriza os professores.
Crônica do homicídio democrático
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