De volta ao passado: conselhos a um jovem advogado
Por Alexandre Batista
Hoje fiz um exercício mental interessante: me imaginei dando alguns conselhos e dicas para mim mesmo no começo de carreira, naquele escritório, em uma sala “emprestada” pela minha mãe na cidade de Fortaleza. O que diria a esse cara recém-saído da faculdade, recém-aprovado no Exame de Ordem?
Talvez começasse dizendo que o caminho traçado não foi tão mau assim, mas, também, o daria algumas dicas importantes. Certamente facilitaria sua vida. Ah! Se pudéssemos ter esses conselhos. Ah! Se seguíssemos. Certamente a caminhada seria menos dura e erraríamos menos, pois bem, iniciaria dizendo a esse jovem: Não use tanto terno, o calor em Fortaleza é insuportável, deixe sempre uma bermuda no carro, nossa orla é linda, e quando possível, no final da tarde, dê um mergulho no mar, ajuda a desestressar, talvez evitaríamos tantos cabelos brancos…
Depois diria a ele: Leia mais os clássicos, não deixe de ler Miguel de Cervantes e Eduardo Galeano, bem melhor do que certas doutrinas que nada acrescentam. Não use o “doutor”, seja mais maleável, menos formal. Seja mais coração e menos razão. Seja menos arrogante, ou melhor, não seja nunca arrogante sobretudo com os que podem menos. Também não seja subserviente com os que pensam poder mais, aprenda de uma vez: não há hierarquia entre os operadores do Direito.
Arrume outra paixão, não se vive só de Advocacia e nunca, mas nunca mesmo, queira discutir prisão preventiva com sua namorada, lembre-se: ela é fonoaudióloga. Encare todas as lides com honestidade, seriedade e sempre fale a verdade para os clientes. Diria mais: aposte em uma área, naquela que desde o inicio da faculdade somos apaixonados. Sim, Advocacia Criminal! É difícil, jovem, mas é apaixonante e acho que você tem talento.
Terminaria o papo dizendo: seja corajoso, afinal “Advocacia não é profissão de covardes”, continue com esse brilho no olhar nas causas que defender. Jamais o perca, dinheiro é bom, mas não é tudo.
E, para arremate final, citaria Sobral Pinto:
“Nada sou, nada valho, e nada significo, sobretudo hoje, em que a vida do advogado é uma série diária e ininterrupta de angústias indescritíveis, de riscos permanentes, e de esforços quase inúteis. E que por toda a parte o advogado se vê hostilizado quando, deparando com o arbítrio petulantemente triunfante, tem a virilidade de a ele se opor”.
Agora, vai lá! Lança-te na defesa do um contra todos, nada temas e se tiveres medo, vais assim mesmo. Um abraço e te vejo no futuro próximo. Ah! Ia esquecendo: não use tanto gel, isso acaba nosso cabelo!
Alexandre Batista – Advogado criminalista, professor de Processo Penal da Faculdade São Lucas.