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O discurso de ódio e a instabilidade do país

O discurso de ódio e a instabilidade do país

Não buscamos, aqui, trazer novidades. Vivemos tempos difíceis. Em meio ao caos da insegurança pública e a aflição vivida pela sociedade, se instaura o discurso de ódio. Redes sociais, meios de comunicação, conversas de bar. A todo o tempo a vontade de eliminar “eles”.

E se a lei disser diferente do que penso? O problema é a lei. O problema é o excesso de direitos. Principalmente, é claro, o excesso dos direitos “deles”.

Mas é claro que junto disso vem o discurso do politicamente correto. Do “cidadão de bem”. Todo pensamento, por mais desrespeitoso e indiferente com a situação do outro, tem por trás um viés protetor da sociedade.

Muitas vezes, inclusive, observamos ser defendida a ideia de que preconceito não existe mais. Racismo? Comportamento da época da escravidão plenamente superado. Será mesmo? Certa vez, chega até nós um cidadão que queria apenas “tirar uma dúvida” e que nos cumprimenta fazendo menção à discursos políticos atuais. Passamos a ouvir o questionamento. O discurso inicia com “a minha vizinha de cor”.

Ali, naquele momento, ele já estava rotulando aquela pessoa. As palavras que se sucedem são carregadas de ódio devido ao tom de pele. “A negra imunda”, “vontade de dar um tiro na cabeça daquela preta”, “família de pretos”.

O discurso racista mais do que pela boca, saía pelos olhos, pelas expressões daquele indivíduo e nos fez faltar o ar, causando-nos pânico, tamanho desamor para com o outro. As expressões utilizadas aqui são pesadas e fortes, mas fizemos questão de reproduzi-las literalmente como foram ditas, a fim de demonstrar que o ódio existe e e de maneira muito forte na sociedade brasileira.

Por outro lado, em outra oportunidade, nos deparamos com o depoimento de um pai emocionado ao relatar a história de sua filha, que possuía na escolinha uma colega nigeriana. Quando indagava a criança acerca da amiguinha, ela dava inúmeras características como: “a colega que sempre queria um colinho”, “a que falava em inglês”, “a que tinha rabicós coloridos nos cabelos”. Em nenhum momento aquela menina fez qualquer tipo de referência a cor da pele daquela amiga.

Isso demonstra que, de fato, ninguém nasce preconceituoso. Mas o meio em que vivemos e os discursos propagados disseminam o preconceito. É como diz Rousseau, “os homens nascem bons, mas a sociedade os corrompe”. Pela cor da pele, pela crença, pela opção sexual. Não há respeito entre os indivíduos.

Independentemente do discurso político que se adote, o respeito à dignidade humana e aos direitos humanos são medidas que devem ser impostas. Inclusive o respeito e a aceitação dos partidos e posições políticas no Brasil, já que o que notamos nestes últimos meses é o radicalismo, tanto do lado da “esquerda”, quanto da “direita”.

Cada um possui o seu posicionamento e claro, quanto mais se propaga o ódio, o desamor, maior será a reprodução da violência na sociedade. Não é isso que queremos. Não é essa a sociedade que merecemos viver.

Além de tudo, não bastando os comentários maldosos por todos os lados, devemos ter muita cautela na reprodução das fake news. Compartilhar notícias e informações sem conhecer a exata fonte e a veracidade é uma atitude muito grave.

Discurso de ódio

O discurso de ódio está presente na sociedade punitivista brasileira e nós, enquanto cidadãos é que devemos desconstruí-lo. Por mais difícil e utópico que possa parecer, as atitudes iniciam por nós. E seja ela qual for, desde que livre da violência e ignorância, é capaz de mudar aos poucos o meio em que vivemos.

Nem fascismo, nem comunismo. Democracia. Liberdades. Garantias. Em que pese o futuro do Brasil ainda ser temeroso e incerto, depende de nós, conforme referimos anteriormente, a fiscalização, a cobrança (pela mantença) dos nossos direitos conquistados, a paz e acima de tudo, a continuação do Estado Democrático de Direito, pois sem ele, não teríamos voz. Talvez sequer, existiríamos.


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Bruna Lima

Especialista em Direito Penal e Processual Penal. Advogada.

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