Receita Federal e PF investigam doleiros que enviaram quase R$ 5 bilhões para fora do Brasil
Grupo de doleiros investigado por movimentar bilhões de forma ilícita
As principais figuras sob investigação são os “doleiros”, suspeitos de operar um esquema financeiro paralelo ao longo de vários anos, atendendo clientes que buscam movimentar grandes volumes de recursos de maneira anônima.
A Receita Federal e a Polícia Federal (PF) estão conduzindo uma investigação sobre um grupo que circulou mais de R$ 4 bilhões em contas fantasmas no Brasil, com o objetivo de enviar esses recursos para o exterior.
Contas fantasmas e empresas de fachada
Os doleiros seriam proprietários de dezenas de contas bancárias associadas a diversas empresas, a maioria das quais seriam empresas fantasmas. De acordo com a Receita Federal, os valores depositados nessas contas eram distribuídos em outras contas para dificultar o rastreamento, sendo posteriormente enviados para o exterior por meio de operações ilegais de câmbio ou pela aquisição de criptomoedas.
Leia Mais:
Mês da Consciência Negra: relembre atletas famosos que ajudaram na luta contra o crime de racismo
STF avalia denúncia de corrupção contra presidente do PT – Gleisi Hoffmann
Origem ilegal e descaminho
A investigação indica que os bilhões de reais movimentados nessas contas têm origem ilegal e operavam à margem dos sistemas e controles da Receita Federal. O esquema, aparentemente, começava em empresas comerciais suspeitas de praticar descaminho ao revender mercadorias de origem estrangeira. Além disso, há indícios de que os operadores desse esquema estariam envolvidos na lavagem de dinheiro de quadrilhas de tráfico de drogas, conforme apontado pela PF.
Evasão de divisas e fraudes cambiais
Durante o período de janeiro de 2018 a dezembro de 2020, estima-se que mais de R$ 1,5 bilhão foi ilegalmente retirado do Brasil. O grupo de doleiros utilizou artifícios como importações fictícias e superfaturadas para formalizar contratos de câmbio junto a instituições autorizadas. A Receita Federal destaca que uma única declaração de importação era empregada em dezenas de contratos de câmbio em diferentes instituições bancárias simultaneamente, criando um efeito multiplicador da fraude.
Ocultação de ativos por meio de criptomoedas
Outro método de ocultação identificado pela investigação envolve a aquisição de criptomoedas em nome de empresas de fachada, cujas carteiras são de difícil rastreabilidade. Dezenas de milhões de reais foram investidos nesses ativos digitais pela organização investigada.
Operação Recidere e cumprimento de mandados
O grupo de doleiros investigado foi alvo da Operação Recidere conduzida pela PF e Receita Federal. Na manhã desta quarta-feira, 21 mandados de busca e apreensão estão sendo cumpridos em diversos estados, incluindo São Paulo e Santa Catarina. Os alvos incluem 16 pessoas físicas e cinco pessoas jurídicas, além da identificação de intermediadores cambiais e despachantes aduaneiros, que também estão sob investigação. No total, 94 policiais federais e 52 servidores da Receita estão envolvidos na operação.
Consequências legais
Os crimes constatados durante a investigação, todos relacionados ao Sistema Financeiro Nacional, podem resultar em penas que somam até 26 anos de prisão. As acusações incluem a gestão fraudulenta de instituição financeira, operação não autorizada de instituição financeira (incluindo câmbio), uso de falsa identidade em operações de câmbio e evasão de divisas.