‘Donzela de Ferro’: entenda o mito por trás do mais temido dispositivo de tortura da história
A inconfundível Donzela de Ferro: De fato um instrumento de tortura medieval?
Por inúmeras vezes a imagem da Donzela de Ferro tomou o imaginário popular como um assombroso instrumento de tortura. Nesta construção humanóide repleta de pinos pontiagudos aprisionava-se a vítima para um fim doloroso. Mas será verdade o seu uso na Idade Média?
O Mediterrâneo observa a caixa de ferro com um respeito arrepiante. Sangramento agonizante, morte lenta, são a realidade debaixo do capô de metal. Mas seria legítimo este retrato mortal hiperbólico?
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Mais verdade do que a ficção: a Donzela de Ferro é verdadeira?
Surpreendentemente, após investigações históricas e arqueológicas, a famosa Donzela de Ferro não possui registros de uso na Idade Média. De fato, suas primeiras aparições data do século 18, justamente quando a figura começou a ser exibida em museus da Europa e Estados Unidos.
Percepções cruéis e arrepios modernos
A visão deste terrível objeto atiçou a inquietação dos cidadãos da Idade Moderna, que se escandalizaram com a existência deste suposto artefato de tortura dos antigos. Em contrapartida, consolaram-se em perceber o quanto a sua sociedade evoluiu em comparação aos “bárbaros” medievais.
O que acreditar: o enigma da Donzela de Ferro?
A tortura, de fato, permeava a atmosfera da Idade Média, sendo geralmente utilizada para extrair confissões de prisioneiros condenados à morte. Estas práticas terríveis estavam ligadas à remissão de pecados na visão cristã, então vigorosa devido à influência da Igreja Católica. Entretanto, os métodos de tortura medievais eram menos elaborados do que o retrato dado pela infame Donzela, conforme aponta o historiador Peter Konieczny, que ressalta que a forma mais comum de tortura era simplesmente amarrar as pessoas com uma corda.
Distanciando-se da realidade: Donzela de Ferro e outras invenções modernas
Ao lado da Donzela de Ferro, inúmeros outros instrumentos de tortura, horripilantes e complexos, foram atribuídos à Idade Média, quando na verdade tratam-se de invenções modernas. Destaque para a Pera da Angústia, objeto violador de cavidades corporais, e a Aranha, supostamente utilizado para arrancar seios de mulheres em interrogatórios.
A Donzela de Ferro mais famosa, localizada na cidade de Nuremberg, na Alemanha, foi construída no início de 1800. A peça acabou tendo a sua fama consolidada graças à história detalhada pelo historiador Johann Siebenkees. Conforme o relato, um falsificador de moedas teria sido morto dentro do caixão de pregos em 1515. No entanto, o objeto foi destruído durante um bombardeio na Segunda Guerra Mundial, em 1944.
A análise da existência da Donzela de Ferro nos remete a antiquíssimas referências que apontam para a sua aplicação, mas em períodos muito mais recuados. Um exemplo está no livro De Cevitate Dei, escrito por Santo Agostinho no século 5, e outro é um registro de Políbio, um historiador grego, feito no século 1 a.C.
Na ausência de evidências concretas que comprove a utilização da Donzela de Ferro na Idade Média ou na Antiguidade, a conclusão que resta é que o apavorante caixão de pregos parece mais um produto do imaginário ocidental, construído para provocar o medo e o espanto, do que um real instrumento de tortura utilizado em épocas passadas.