Médico dos presos: saiba como Drauzio Varella começou a trabalhar em prisões
Explorando o compromisso com a medicina em prisões
O Dr. Drauzio Varella, renomado médico brasileiro, dedicou quase 35 anos de sua vida ao atendimento médico voluntário em prisões masculinas e femininas, uma missão que não foi tomada de ânimo leve.
Essa experiência teve um impacto significativo em sua vida e na sociedade, resultando em amizades duradouras, a escrita de uma trilogia de livros e um enriquecimento notável de seu conhecimento médico.
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Drauzio Varella: Uma jornada na medicina de guerra
Atender pacientes nas prisões era uma forma de medicina de guerra para Drauzio Varella, já que não dispunha dos recursos típicos de laboratórios e exames de imagem. Em vez disso, tinha à disposição uma cesta básica de medicamentos e um grande número de detentos com necessidades médicas.
Ele reconhece suas falhas devido à falta de recursos, mas enfatiza a importância de aprender com os erros, uma lição que carrega consigo até hoje.
O prólogo inevitável: Aids
Antes de entrar nas prisões para prestar atendimento médico voluntário, Drauzio Varella se envolveu com a epidemia de aids.
Desde o início da epidemia, em 1981, ele estava ciente dos primeiros casos. Dois anos depois, fez um estágio no Memorial Hospital de Nova York, quando a cidade era o epicentro da epidemia nos Estados Unidos.
Essa experiência despertou seu interesse na medicina, pois ele chefiava o Serviço de Imunologia no Hospital do Câncer na época.
Enfrentando a epidemia
O médico voltou ao Brasil convencido de que a aids se tornaria um problema grave no país. Contudo, a imprensa a chamava de “peste gay”, o que desviava a atenção de outros grupos de risco. Isso o levou a fazer um trabalho de conscientização, inclusive no rádio, e a produzir vinhetas populares que buscavam combater o estigma da doença.
Um chamado para a ação
As vinhetas chamaram a atenção de Maria Odete Brandalise, que convidou Drauzio para uma série de vídeos. Ele aceitou sob a condição de abordar a epidemia nos locais mais afetados, incluindo prisões, comunidades gays e guetos de usuários de drogas. Assim, em 1989, ele começou sua jornada nas prisões.
Atendendo a necessidades médicas nas prisões
O Carandiru foi uma das prisões que Drauzio Varella visitou, onde realizou testes de HIV que revelaram uma alta taxa de infecção. Ele percebeu que o teste não era suficiente; era necessário fornecer educação e conscientização regular sobre a doença.
Essa iniciativa, realizada por mais de dez anos, reduziu significativamente a disseminação da aids na prisão.
Diferenças entre prisões masculinas e femininas
Quando Drauzio começou a atender em prisões femininas, percebeu diferenças substanciais em relação às prisões masculinas.
As mulheres eram frequentemente abandonadas por suas famílias, o que aumentava sua vulnerabilidade. Além disso, a maternidade na prisão era uma fonte de preocupação constante para as detentas.
Independentemente do gênero, as prisões enfrentavam problemas de saúde relacionados à pobreza, como dores de dente e canal, que poderiam ser tratados, mas a infraestrutura e o apoio do poder público eram insuficientes.
Drauzio Varella continuou sua missão, indo às prisões uma vez por semana e fazendo o que podia com os recursos limitados disponíveis.