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Elefantas Lady e Ramba: histórias de sofrimento e exploração

Elefantas Lady e Ramba: histórias de sofrimento e exploração

Na semana passada, duas notícias envolvendo elefantas causaram comoção e, ao mesmo tempo, alento a todos aqueles que lutam pelos direitos dos animais.

No dia 18 de outubro, sexta-feira, uma audiência de conciliação na Justiça Federal da Paraíba resultou num pré-acordo para que uma elefanta, chamada Lady, seja transferida para o Santuário dos Elefantes, uma ONG sediada no estado do Mato Grosso, Brasil. Técnicos do município de João Pessoa visitarão o Santuário a fim de verificar as condições para receber a guarda de Lady. No pré-acordo, caso o município concorde com a transferência, as associações autoras da ação admitem retirar o pedido de dano moral coletivo.

Desde 2013, Lady, que tem 47 anos, vive no Parque Zoobotânico Arruda Câmara (Bica) em João Pessoa, quando foi regatada do Circo Europeu Internacional. Ela nasceu em cativeiro e passou quase 40 anos realizando apresentações em circos, percorrendo o Brasil em contêineres.  

Segundo laudo de Médicos Veterinários, Lady está em sofrimento físico e psicológico devido à estrutura inadequada e à falta de capacitação dos funcionários do parque. Tem pododermatite, (lesão infecciosa que causa dor, crescimento excessivo das unhas, odor fétido e exsudação ao redor das unhas) há aproximadamente três anos; inflamação e dor nos membros; restrição de movimentos das articulações; relutância em se movimentar; e marcha atípica. O laudo aponta que a elefanta corre risco de morrer.

No dia 30 de outubro a audiência de conciliação terá continuidade, ocasião em que a Secretaria de Meio Ambiente do Município de João Pessoa e o IBAMA poderão afirmar sua concordância com a transferência da elefanta Lady para o Santuário de Elefantes, dependendo da manifestação dos técnicos. 

Por outro lado, a elefanta Ramba, com 53 anos de idade, já está no Santuário de Elefantes desde o dia 17 de outubro (quinta-feira). Ela veio do Chile, mas fora comprada na Ásia e primeiramente levada para a Argentina, onde trabalhou em diversos circos. Em 1995 chegou ao Chile, onde trabalhava em circo.

Em 1997, após denúncias de maus-tratos e posse ilegal de animais, Ramba foi confiscada pelo Serviço Agrícola e Pecuário do Chile e proibida de fazer apresentações, apesar de o circo continuar como seu depositário. Seu resgate aconteceu em 2011, após decisão judicial conseguida pela ONG chilena Ecópolis. Ela foi levada ao Parque Safári do Chile, localizado em Rancágua. O local fica a, aproximadamente, 97 quilômetros de Santiago, mas devido ao parque localizar-se atrás da Cordilheira dos Andes, a elefanta sofria por causa dos invernos rigorosos.

Ela tem várias cicatrizes devido ao uso de correntes. E, como consequência da falta de água potável na época em que se apresentava no circo, sofre de  problemas renais crônicos.

Agora, já no Santuário, espera-se que Ramba – e, num futuro próximo, Lady –, desfrutem de uma vida digna, que lhes foi negada devido à exploração por seres humanos.

Cabem aqui algumas considerações a respeito destes dois casos. 

Os elefantes possuem ótima memória, acumulam e retêm o conhecimento social e ecológico. Na natureza, eles se lembram por décadas de rotas migratórias, de aromas e de lugares onde a água e os alimentos podem ser encontrados. Isso os auxilia principalmente em épocas de seca.

Além disso, são animais gregários que se juntam em manadas com uma complexa estrutura social. As manadas geralmente são formadas por 20 ou 30 indivíduos, liderados e conduzidos por uma fêmea adulta denominada matriarca. 

Percebe-se, portanto, que Lady e Ramba, assim como todos os animais que foram (e, infelizmente, muitos ainda são) explorados para entretenimento humano em circos e/ou zoológicos, tiveram violadas todas as Cinco Liberdades preconizadas pela Farm Animal Welfare Council (FAWC): liberdade de fome e sede; de desconforto; de dor, ferimentos ou doenças; para expressar seu comportamento natural; e liberdade de medo e angústia.

Elefantas

As Cinco Liberdades já foram abordadas nesta coluna, mas nunca é demais relembrá-las, ainda mais nestes casos de Lady e Ramba: mesmo que a partir de agora as elefantas estejam num santuário, as marcas físicas e psicológicas do sofrimento, da humilhação e da indignidade com que foram tratadas por décadas não se apagarão. 

Infelizmente é isso o que ocorre quando os humanos utilizam os animais para seu entretenimento. Esperamos, verdadeiramente, que um dia a exploração de todos os seres sencientes tenha fim. E que este dia não demore muito a chegar.


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Gisele Kronhardt Scheffer

Mestre em Direito Animal. Especialista em Farmacologia. Médica Veterinária.

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