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Em matéria criminal, todos querem opinar!


Por Anderson Figueira da Roza


Diariamente somos surpreendidos com notícias sobre casos criminais. Isto é elementar, as pessoas tem necessidade de falar sobre crimes. Muitas vezes notáveis profissionais de diversas áreas, possuem sólidas opiniões sobre a criminalidade e seus agentes.

Mas por que somos assim? Por que nos atormenta tanto, por exemplo, comentar uma decisão muitas vezes equivocada que um juiz determina a soltura de uma pessoa que foi presa em flagrante, do que saber e nada falar de uma outra pessoa que foi presa indevidamente por outro erro judiciário?

Na verdade, erros judiciários são possíveis em qualquer lugar do mundo, um processo criminal é movimentado por acusadores e defensores e ao final há que se haver uma sentença, este sistema é caro demais para todos os lados. Um erro judiciário tem um valor considerável para o processo e também para a sociedade, independente de condenação ou absolvição.

Caso você seja um amante das ciências criminais, experimente tirar a toga de uma das partes e analise estas questões de erros judiciários friamente. Pense no seguinte: você conhece duas pessoas, e sabe que uma delas assassinou alguém e ela foi colocada em liberdade por alguma decisão que a seu ver é equivocada; agora pense que você conhece outra pessoa que foi presa e condenada por um assassinato que ela não cometeu. O que lhe deixará mais agitado, mais triste?

Atualmente estamos vivendo um momento social muito perigoso, aliás, viver hoje em dia está igualmente muito perigoso. Temos medo de tudo, nos cercamos, nos individualizamos, queremos viver mais seguros a qualquer custo. Sabidamente os problemas sociais do nosso país são tão sérios que nem sequer ficamos surpresos com tantos escândalos de corrupções, desvio de verbas públicas, etc. Diante deste quadro, nos sentimos pouco, indefesos e o que nos afasta da posição de vítima de um assalto hoje é apenas a sorte, de não estar no lugar errado, na hora errada.

Porém, cada caso, após ser esclarecido, chegará ao Poder Judiciário, e novamente após acusação e defesa apresentarem provas e argumentos, teremos uma decisão. E aí um novo ciclo de comentários se abre. Todos nós temos uma necessidade imensa de opinar e de dizer o que pensamos a respeito. Mas para resolver tudo isso, teríamos que ter uma sociedade muito melhor do que nós temos, sem exceção.

Se tivéssemos uma população mais comprometida com os valores sociais, seríamos melhores pessoas, seríamos melhores policiais, seríamos melhores promotores, seríamos melhores advogados, seríamos melhores juízes, e os erros judiciários seriam menores, mas mesmo assim comentaríamos as exceções. Mas o recado final é: será que realmente não perdemos muito tempo comentando exceções hoje em dia?

AndersonFigueira

Conceptual photography Misha Gordin

Anderson Roza

Mestrando em Ciências Criminais. Advogado.

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