Escritório de advocacia: encontrar o sócio certo é como ganhar na loteria
Por Jean de Menezes Severo
Fala meu povo! Depois de duas colunas de tirar o fôlego, nas quais pude narrar uma história de vida real, tendo trabalhado como defensor, como advogado na defesa de uma jovem senhora que, no meu modesto ponto de vista, deveria ter sido absolvida como foi, todas as minhas colunas são escritas com base em processos nos quais eu atuei. Procuro sempre preservar as partes por uma questão de respeito e ética. Sempre digo que meu maior tesouro, que minha grande riqueza é o fato de eu ter atuado em um grande número de processos. Procuro dividir com meus amigos leitores, em minhas colunas, as experiências profissionais pelas quais fui submetido.
Foram muitas alegrias e tristezas nesta longa caminhada jurídica. Erros e acertos, mas sempre com a certeza de que dei o meu melhor na defesa dos meus clientes e que fui ao meu limite físico e mental sempre que fui necessário. Hoje e sempre. Não sei fazer diferente. Advogar é minha vida e vamos para a próxima coluna, que trata de um assunto muito importante, qual seja: sociedade. Como é importante trabalharmos ao lado do sócio certo.
Logo que nos formamos, que deixamos de ser estagiários e nos tornamos nossos próprios patrões, tudo muda radicalmente. Nossa vida começa a ser pautada por despesas e mais despesas: aluguel, luz, condomínio, internet, e outras miudezas que todo escritório precisa ter e que somadas nos levam à loucura. Até as folhas que utilizamos para fabricar nossas peças jurídicas pesam no orçamento, portanto, o que fazem aqueles que não tiveram um pai, tio ou avô advogado já com escritório montadinho e com clientela certa? Procuram um sócio para dividir lucros e, principalmente, as despesas, mas cuidado ao escolher seu sócio. Não basta só amizade entre ambos; é necessário ter comprometimento com o escritório e, especialmente, muito trabalho de AMBOS para ser ter um escritório de sucesso.
Amigão, nem sempre seu melhor amigo vai ser o melhor sócio que você pode ter. Lembro que, após a formatura, isso há mais de dez anos, decidi dividir um escritório com um grande amigo, desses do peito mesmo. Foi essa amizade muito forte que fez nossa sociedade não ir para frente. Percebemos que pela amizade e parceria estendíamos muito os almoços, e encurtávamos demais as tardes para tomar um chope gelado. Resultado: tínhamos um déficit muito grande de produção e, no final do mês, não tínhamos um lucro significativo no escritório. No máximo conseguíamos pagar as contas e decidimos por bem desfazer a sociedade e continuamos amigos até hoje, mas um bem longe do outro. Juntos éramos terríveis. Sócios de bar e de festas somente. Ainda bem que percebemos isso com poucos meses de sociedade.
Uma outra dica que também posso dar é não misturar família com o escritório. É evidente que existem grandes escritórios que os familiares se dão bem no mesmo ambiente de trabalho, mas acredito não ser esta a regra, principalmente se tu tens um escritório com grande demanda de processos de todas as áreas, atendendo aos mais diversos tipos de clientes porque, às vezes, tu não gostarias de ver um cliente chato e/ou mal-educado xingando teu parente, por exemplo. O processo dele está parado na mesa do juiz e não há o que se fazer e é difícil separar o profissional do pessoal nessas ocasiões. Meu conselho: não misturar as “estações”.
Também já desfiz uma sociedade porque meu sócio, apesar de ser extremamente honesto e trabalhador, queria empregar no escritório a família inteira. O ambiente se tornou complicado, porque, ao invés de ser um local de trabalho, transformou-se em uma continuação da casa, onde eu era o “estranho no ninho” e tinha minha vida controlada por todos eles. Preferi desfazer a sociedade e manter a amizade. Sempre fui um cara educado e não iria xingar familiares de uma amigo. Aprendi com a vida que educação e respeito vêm em primeiro lugar.
Acredito que, para se ter uma sociedade produtiva, saudável e rentável, devemos ter um sócio que trabalhe com a mesma vontade do que a gente; que seja sincero, se não gostou de alguma coisa, fala, com educação e respeito. Não podemos ficar guardando mágoas ou engolindo sapos. Se fazemos isso, uma hora estouramos e aí a sociedade vai por água abaixo. O sócio de verdade não aparece somente na hora de receber os honorários, ele é um cara atuante e pró ativo. Quer o bem da sociedade e não só o seu bem estar próprio. Preocupa-se contigo, exalta tuas qualidades, mas também te corrige quando necessário. Só os dois, pois ninguém precisa saber o que não vai bem no escritório. O sócio de verdade te representa em qualquer lugar, tem orgulho em dizer: Meu sócio é fulano de tal. Se precisar ficar até mais tarde no escritório, lá está ele ao teu lado, sorrindo.
Sociedade é uma espécie de casamento sem sexo. Ser um bom sócio é saber ouvir; é ser bombeiro no momento de exaltação. Um escritório de advocacia deve ser um ambiente sóbrio, cuja finalidade é resolver os problemas dos outros, portanto, o escritório em si não pode ser um problema e quem faz o bom ambiente do escritório são seus sócios, com muito trabalho, carinho respeito e admiração mútua entre todos.
Graças a Deus hoje tenho estes sócios no meu escritório. Obrigado Gustavo, Paulo, William, Botti, André, Lino, Guilherme, meu amigo Antônio, nossa secretária Thais, por fazerem do nosso escritório um lugar maravilhoso de se trabalhar.
Deixo aqui meu abraço fraternal a todos os amigos leitores e até a próxima coluna!