“Estamos nas mãos dos internos”, afirmam agentes do DEGASE
Os agentes do Departamento Geral de Ações Socioducativas (DEGASE), órgão responsável por executar as medidas socioeducativas aplicadas aos adolescentes, se recusam a trabalhar em razão da falta de segurança no local. Segundo o sindicato dos Servidores do Degase (Sind-Degase), só no ano de 2021 foram registradas dez rebeliões, além de um dos agentes ter sido morto com dois tiros na cabeça.
O agente, Thiago Costa, de 40 anos, teria sido reconhecido pelos criminosos enquanto comprava equipamentos para o Centro de Recursos Integrados de Atendimento ao Adolescente (Criaad) da Ilha do Governador, unidade onde ele trabalhava, e terminou perdendo a vida com dois tiros na região da cabeça.
Na última terça-feira (22) foi registrada mais uma rebelião dos menores na unidade João Luiz Alves, ocasião que fez com que os funcionários se recusassem a assumir o posto de serviço, além de muitos terem solicitado suas transferências por terem sido alvo de ameaças constantes feitas pelos internados.
Segundo um dos agentes:
As pessoas acham que o Degase é um órgão de assistência social e que cuida de menores que cometeram deslizes. Mas, na verdade, aqui não tem o garoto que roubou chocolate nas Lojas Americanas. O adolescente que tá aqui dentro é o cara que está no tráfico desde os 12 anos, que troca tiro com a polícia, que já cometeu homicídios. Muitos vão sair daqui para virarem 01 e 02 do tráfico em diferentes comunidades. O risco aqui é muito grande, todos os dias
O presidente do Sind-Degase, João Rodrigues, afirmou que eles estão lutando por condições melhores de trabalho, e sustentou que os agentes não irão mais aceitar trabalhar se não houver melhoras. Ele alegou ainda que o número de agentes é muito reduzido, e por essa razão, fica impossível conter as rebeliões.
O representante do sindicado disse ainda que a situação piorou após a decisão da justiça de afastar 25 servidores por serem suspeitos de maus-tratos e tortura contra os menores internados:
“Ameaças de morte e agressões contra os agentes viraram uma triste rotina. Isso se dá pela interferência exacerbada dos órgãos de controle, causando indisciplina e sucessivas rebeliões. Os internos estão com a certeza da impunidade, o que se vê é uma total inversão de valores, em que diversos agentes vêm sendo afastados pela Vara da Infância e Juventude e internos recebem regalias.
Segundo João Rodrigues, após o afastamento desses servidores, 15 jovens atearam fogo em espumas de colchões nos alojamentos da unidade da Ilha do Governador, e 7 fugiram.
Um dos funcionários alegou que os menores já perceberam que eles são beneficiados quando alegam à justiça que estão sofrendo maus-tratos, e dessa forma a quantidade de agentes diminui e eles conseguem atear fogo nas coisas e se beneficiar do incêndio fugindo.
O Desage não informou o número total de agentes que estão atuando no momento por ser uma informação sigilosa, mas informou que eles possuem um déficit de pelo menos 700 servidores.
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