Falácias que prejudicam o Criminal Profiling
Falácias que prejudicam o Criminal Profiling
Para quem quer ser um profiler, não basta saber como elaborar perfis criminais e quais características precisam ser observadas. Vai muito além disso. O profiler precisa ser minucioso, observador, curioso e analítico. É necessário ter maturidade e autoconhecimento para entender que a sua visão de mundo não deve interferir na elaboração do perfil criminal. Isso tudo leva às falácias que atrapalham bastante o trabalho do Criminal Profiling quando utilizadas mesmo sem a intenção.
De acordo com Howitt, existem 9 principais falácias lógicas que precisam ser evitadas pelo profiler. Essas falácias induzem ao erro e levam o profissional a usar as informações coletadas e as evidências de forma inadequada.
É importante entender o significado dessas falácias e o motivo pelo qual elas devem ser evitadas, pois podem ocorrer distorções de fatos influenciados por opiniões, fontes inadequadas e generalização. O profiler precisa ter muito cuidado, pois é uma área facilmente desacreditada por causa de maus profissionais que não possuem qualificação adequada.
Resumidamente as 9 falácias são:
1. Apelo à tradição
Trata-se do argumento utilizado para o que sempre foi assim, dar significado a algo pela sua antiguidade independente do que for. Essa falácia é inadequada sobretudo porque não necessariamente algo que possui antiguidade significa que é absoluto ou verdadeiro.
2. Apelo à autoridade
Apelar para a reputação de uma autoridade e para a sua palavra não é tão lógico quanto dar autoridade para a evidência. Mesmo tendo autoridade por ter uma visão torta da realidade ou um argumento não reconhecido pela maioria, enquanto a evidência está clara.
3. Apelo emocional
O apelo emocional desvia a atenção do observador da evidência, pois traz prejulgamentos, analogias com convicções que podem não condizer com a realidade do crime.
4. Post hoc, ergo propter hoc
Significa “depois disso, logo por causa disso”. Essa falácia é muito perigosa, pois trata da relação de causalidade por meio de uma conexão entre eventos, que atrapalha na investigação criminal, pois assume algo a partir de uma situação específica sem uma análise mais elaborada.
5. Argumentum ad hominem
Argumento ao homem significa que o alvo é a característica apresentada pela pessoa que fala sobre o ato e não o contrário. Utilizar a timidez de alguém para justificar o não cometimento de um crime, por exemplo. Mesmo que a pessoa seja tímida, não significa que ela não é capaz de cometer um crime. E outra coisa, demonstrar timidez não significa que a pessoa realmente é tímida, pode ser um fingimento. Por isso é preciso analisar o fato primeiro para entender a característica da pessoa.
6. A generalização precipitada
Significa generalizar antecipadamente, com informações insuficientes. Acredita-se em algo sem dados satisfatórios e capazes de suportar o argumento. Qualquer atitude precipitada é negativa na elaboração do perfil criminal.
7. A generalização de varrimento
Analisar um caso como se fosse de um tipo específico somente porque foram observados muitos casos do tipo. Cada caso é um caso, a probabilidade de ser algo comum é maior, mas não se deve concluir o tipo de crime somente por isso. Por exemplo: estão ocorrendo diversos homicídios praticados por uma gangue em uma região. A partir daí, todos os homicídios naquela região em que existe uma dúvida sobre a autoria são tratados como praticados pela mesma gangue. Isso não é uma análise correta; são sempre fatores múltiplos que definem alguma característica do crime, da vítima e do criminoso.
8. A dissonância cognitiva
Essa falácia está relacionada à cognição do profiler e a sua percepção quando não há harmonia de pensamentos. É preciso que o profiler observe e perceba quando seus pensamentos e ideias estão agindo no sentido contrário ao que a evidência mostra. É necessário admitir suas dificuldades quando a dissonância cognitiva ocorre e entender que a evidência sempre fala mais alto.
9. Falsa precisão
Assumir que o grau de precisão de um argumento é maior que realmente é. Dar muito mais valor a uma informação do que o necessário pode levar a um caminho muito distante da realidade e atrapalhar toda a investigação.
É importante entender que o trabalho do profiler não é para qualquer um. Além do que já foi dito sobre suas habilidades, esse profissional não pode conjecturar quando existe dúvida sobre algo, então cada detalhe conta e a forma como as evidências são analisadas precisa ser o mais cuidadosa possível. Nenhuma informação pode passar despercebida, mas também não se pode dar juízo de valor para os dados coletados antes de definir o seu significado.
O Criminal Profiling exige muito da pessoa que trabalha com isso e necessita de estudo constante, tendo em vista que as pesquisas e entendimentos sobre o tema mudam e evoluem à medida que as pessoas o fazem e que as possibilidades também.
REFERÊNCIAS
PAULINO, M.; ALMEIDA, F. Profiling, Vitimologia & ciências forenses: perspectivas atuais. 2. ed. Lisboa: Pactor, 2013.
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