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Filha é presa por golpe milionário contra a própria mãe

A filha da vítima, Sabine Boghici, contratou pessoas que se passaram por videntes para aplicar um golpe e convencer a mãe a pagar por um “trabalho espiritual” a fim de salvá-la.

A intenção de Sabini era extorquir a mãe, que possuía várias obras de arte de custo altíssimo.

O caso aconteceu na zona sul do Rio de Janeiro, onde a filha teria aplicado um golpe milionário contra a própria mãe, a francesa Geneviève Boghici, de 82 anos. Sabine é filha do romeno Jean Boghici, um dos maiores colecionadores e negociantes de artes do Brasil, morto em 2015.

obras apreendidas no golpe.
Obras de arte. Imagem: Nation Thailand

As investigações apontam que Sabini e sua quadrilha teriam conseguido cerca de R$ 725 milhões em obras de arte, joias e dinheiro dos golpes à Geneviève. Eles ainda teriam subtraído cerca de 16 peças de artistas consagrados.

Foram presos Gabriel Nicolau Traslaviña Hafliger, Jacqueline Stanescos e a vidente Rosa Stanesco Nicolau, conhecida como Mãe Valéria de Oxossi.

Dentre os quadros, existiam trabalhos de renomados artistas, como Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral. 

Investigação Sol Poente

A ação foi apelidada de “Sol Poente”, em alusão ao quadro Sol Poente, de Tarsila – avaliado em R$ 250 milhões e encontrado por policiais embaixo da cama de uma detidas.

Ao todo, seis mandados de prisão e 16 de busca e apreensão foram expedidos.

O caso é investigado pela Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade.

Como ocorreu o golpe

De acordo com a Polícia Civil, Sabine era a articuladora do crime. Em janeiro de 2020 ela contratou uma mulher que se passava por vidente para abordar Geneviève na rua e dizer que alguém de sua família morreria em breve.

Diana Rosa Aparecida Stanesco Vuletic foi a primeira a abordar a idosa, em janeiro de 2020. A vítima tinha acabado de sair de um banco quando Diana a parou no meio da rua e lhe avisou sobre um “mal incurável” que se abateu sobre a filha dela.

A idosa consultou uma segunda “vidente”, prima de Diana, Jacqueline Stanescos, que explicou que, para fazer o “trabalho espiritual”, iria precisar de dinheiro e objetos de valor.

A vítima desconfiou e não respondeu às perguntas.

Diana, então, sugeriu procurar uma terceira pessoa, “de confiança”.

Mãe Valéria de Oxóssi foi a terceira a ver a vítima e, segundo a polícia, era namorada da mentora do crime, meia-irmã de Diana e prima de Jacqueline.

Rosa jogou búzios e colocou as cartas, de onde “previu” que Sabine, a filha da consulente, “estava com um espírito ruim que a levaria à morte”.

A idosa acreditou na terceira opinião e começaram uma série de pedidos para que as videntes pudessem fazer o “trabalho de salvação”.

A vítima desconfiou e contou tudo para a filha, que estimulou os pagamentos com medo que lhe ocorresse algum mal. 

Apenas nas primeiras duas semanas, Geneviève movimentou R$ 5 milhões para a quadrilha. 

Entre 2020 e 2021, segundo as investigações da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Sabine começou a agredir fisicamente e ameaçar de morte a mãe. Ela negava comida para a idosa para obrigá-la a pagar o suposto tratamento espiritual.

A senhora era mantida em cárcere privado pela filha, crime previsto no art. 148, do Código Penal, e fez mais de 39 transferências bancárias para o filho de uma das videntes, no valor de R$ 3.990.900, o que configura a prática de extorsão.

Ao todo, Geneviève Boghici teve 16 obras de arte extorquidas, avaliadas em quase R$ 300 milhões cada.

Sabini foi presa acusada de aplicar o golpe milionário na mãe.

Geneviève fugiu do cárcere privado em 2021 após a filha sair de casa, em Copacabana. Ela usou uma chave reserva para deixar a residência e se hospedou com amigos. De acordo com a polícia, a idosa demorou em reportar o fato às autoridades por não querer denunciar a filha. Os investigadores disseram que Geneviève desconfiou do crime após ver a filha conversando muito com Rosa Stanesco.

Daniele Kopp

Daniele Kopp é formada em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) e Pós-graduada em Direito e Processo Penal pela mesma Universidade. Seu interesse e gosto pelo Direito Criminal vem desde o ingresso no curso de Direito. Por essa razão se especializou na área, através da Pós-Graduação e pesquisas na área das condenações pela Corte Interamericana de Direitos Humanos ao Sistema Carcerário Brasileiro, frente aos Direitos Humanos dos condenados. Atua como servidora na Defensoria Pública do RS.

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