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Heróis: análise social antropológica de sua posição na Arte e no Direito

Heróis: análise social antropológica de sua posição na Arte e no Direito

Definir a genealogia dos heróis não é tarefa fácil. Entretanto, pode-se relacionar as suas aventuras aos acontecimentos culturais e influenciadores do desenvolvimento em ascensão do homem e suas crenças, mesmo não intentando uma aprofundada pesquisa de sua origem.

O herói relaciona-se com a moral. Muitas vezes não parte de um sentido de justiça, mas de bondade. Sua conexão com a nobreza de seus instintos mais generosos é fonte geradora de sua força, bem como de sua fraqueza. 

Diferentemente do medo aterrorizante causado pelos monstros, o valente traz consigo a esperança. E ele surge devido a necessidade que o mortal tem desse destemido protetor.

E essa proteção é causa e efeito para a coexistência e para a afirmação de que não se está sozinho neste mundo, da mesma forma que nada é decidido por liberdade ou por nossa própria liberalidade.

Não é o homem “destinado a ser livre”, mas fadado a seguir os passos do herói. Esse ser inquebrável mantém seu senso de bondade e justiça interligado ao rumo de sua própria história, que sempre se baseia em uma ordem filantropa e altruísta, instituída pelas suas experiências na existência.

Dessa forma, o homem caminha pelas sombras e decisões de seus heróis, movido pelas habilidades essenciais da interpretação dos atos heroicos. 

Neste ponto, é com Enéas de Virgílio (A Eneida, 19 A.C.) que as experiências afloram num interpretar daquilo que deve ser feito, para alçar voos maiores. E é assim que Enéas deixa para trás, a pedido de Páris, os muros caídos de Troia e parte para a fundação da Itália (Roma). O herói rege sua saga liderando aqueles que necessitam de uma luz acesa a qual seguir.

As decisões dos homens normais seguem Enéas, pois ele é o detentor do maior poder troiano que resiste: a cultura da cidade está em suas mãos (espada de Troia) bem como, o povo e toda sua esperança são guiados por sua expertise.

Esperança define o herói. 

Desde suas concepções mais entranháveis. Kalel, filho de Jorel, da família El de Kripton, criado por Jerry Siedel e Joe Shuster em 1933, possuía o símbolo da esperança em seu peito, definido pela cultura de seu planeta, o S que deu origem ao Superman. 

Mas esse personagem entende o bem de uma maneira muito peculiar. Ao ser enviado para a Terra e se travestir de Clark Kent, encontra sua fraqueza em meio a um turbilhão de sensações. Se seu poder é etéreo e divino a sua capacidade de amar e conceber o amor são humanas. 

De toda forma, Kent, por mais alienígena que seja, possui as mesmas fraquezas que todos nós possuímos e que, vez ou outra, aflora no mundo social, para nosso bem ou para nosso mal.

 Diferente de outro herói que é mais um remendo de solidão e dor, um espectro daquilo que define o homem; o antissociável Bruce Wayne. Este por si, somente conhece a dor, todavia, seus propósitos e ensinamentos mais triunfais o levam à busca de uma justiça impassível, mas não de vingança. Entendeu pelas suas dores mentais, espirituais e físicas que justiça e vingança são duas coisas muito distintas. 

O herói é incorruptível, inquebrável. E sua concepção nasce com as religiões e reverências aos próprios deuses antigos. Veja o exemplo dos deuses mitológicos, que desciam para ter seus prazeres com as mortais, invejando os homens criados por Zeus e suas alegrias humanas. 

Numa dessas aventuras, a concepção de Aquiles e Hércules soam um determinante fator para que se possa entender o homem e seus heróis. A distinção entre esses dois paladinos refere-se entre a mortalidade ou a imortalidade. Enquanto Hércules era filho de Zeus em sua aventura com a mortal Acmena, Aquiles tinha uma linhagem “mortal”, filho de Tétis e Peleu.

Aquiles era sobretudo um general de guerra, estudioso do combate e cultuado por isso. Hércules era o semideus, de proezas inimagináveis, que poderiam ser afirmadas pela fé, ou negadas pelo ceticismo. A grande diferença, porém, vem de como os seus povos identificam o herói em meio a sua própria história.


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Um desses exemplos é trazido pela absurda segunda guerra mundial. Quando o Terceiro Reich mecanizava suas formações e estruturava o seu poder dentro da Alemanha, o receio e pavor já eram mesmo no início, uma verdade nos corações das famílias não alemãs do território. 

A única coisa que as defendia era a Constituição Alemã e por ela, sentiam-se seguros. Uma carta de liberdade e direitos que não podia ser deletada, a garantia da liberdade dos povos não germânicos, pensavam eles. 

Ocorre que para alguns, o herói subia ao poder com a pujança de enfrentar o iniquo que os havia lhes dobrado em guerra anterior, de ostentar a força de sua raça e de seu povo, contra as minorias. Para muitos; herói. 

E aqueles que assim interpretaram e travaram a destruição da Constituição e dos povos antes livres, nada mais fizeram que enxergar o intrépido peleando contra a maldade; como Aquiles aniquilando troianos ao seu bel prazer, em nome de Agamemnon. 

A maneira qual os heróis são interpretados também apresenta a forma qual o povo entende os seus próprios atos, pois as atitudes dos heróis são sempre boas.

É preciso uma forte campanha para tornar o herói incorruptível, nesses casos. O Superman ou Capitão América, criados a partir do molde norte americano, em guerra desde o início dos tempos, surgiram dessas campanhas. 

Mas a maneira que o herói se porta diz mais sobre seu povo do que sobre ele próprio.

É certo que para o cristianismo, Cristo é o herói que desprendeu-se da vida em prol de uma maioria silente. E esse herói insubornável e real/metafisico conseguiu algo inaudito até então, na história da humanidade: em seu nome guerras foram travadas e vidas foram tiradas. Aqui há a inversão do herói; de seus ensinamentos e de sua forma de viver. 

Mas essa não é uma causa única de inversão dos valores do heroico. Por seu turno, Odisseu ou Ulisses (A Odisseia, Homero) trata o herói incorruptível, mas que em busca de vingança inicia um massacre por sua força descomunal. E é ouvindo o pedido da deusa Atena que o herói volta a ser notável; abandonando a vingança contra os pretendentes de Penélope, que é um sentimento dos homens e de deuses também.

E é ao ouvir a suplica que o homem se torna o herói.

De toda forma, seja ele mortal ou não, o fato é que os mitos influenciam toda a sociedade, desde os primórdios. O importante ainda é a causa para lutar e continuar lutando. Assim, o herói relaciona-se com a moral. Sua moralidade deve ser límpida e representar o povo que ele defende. 

Todavia existem os paladinos da justiça, que são retratados ainda por alguns como heróis. Esses são os vingadores, que travam uma batalha em prol de alguns reformadores morais. A princípio tal batalha surge em nome da moral e dos bons costumes, tornando-se cada vez mais uma cruzada contra o que consideram estar errado. 

E esses paladinos heróis compreendem seus atos e interpretam a moral segundo o seu próprio senso de justiça, parco muitas vezes. A dificuldade ou problema maior surge quando não importa o método, mas que atingirão suas metas traçadas, seja utilizando-se de instituições, como o direito, ou de exemplos cívicos, como a exclusão. 

De qualquer forma, desde paladinos mitológicos e humanos, estrangeiros e alienígenas uma verdade pode ser afirmada; são todos humanos, demasiadamente humanos.


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Iverson Kech Ferreira

Mestre em Direito. Professor. Advogado.

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