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Jeffrey Dahmer, o canibal americano


Por Bernardo de Azevedo e Souza e Henrique Saibro


“Eu sentia uma espécie de fome, eu não sei como descrevê-la, uma compulsão e eu apenas continuei fazendo e fazendo novamente, sempre que a oportunidade aparecia.” 

(Jeffrey Lionel Dahmer)

A PERSONALIDADE

Tentar descrever a personalidade de Jeffrey Lionel Dahmer é muito complicado – para não dizer impossível. Também conhecido como american cannibal, psiquiatras dividiam-se sobre sua imputabilidade. Afinal, é difícil imaginar que uma pessoa sã pudesse cometer, com tanta frieza, os crimes de tamanha atrocidade que serão detalhados abaixo.

Dahmer criou-se em uma família de convivência complicada. Seus pais brigavam diariamente. Sua mãe era considerada muito tensa e extremamente sensível. Seu pai era bastante ausente, dado seu empenho acadêmico e sua ocupação como químico. Jeffrey sempre foi visto como uma criança introspectiva e tímida. Aos 6 anos, quando seu irmão nasceu, sua timidez agravou-se, vivendo praticamente em silêncio.

Mas talvez o episódio que mais marcara a sua vida e que provavelmente amoldara o seu psicopatismo se deu aos seus 4 anos. Dahmer foi submetido a uma séria cirurgia de amputação de duas hérnias no seu corpo. Posteriormente, relatou que teria sido enganado pelos médicos, pois ninguém teria lhe contado que “pessoas estranhas abririam e mexeriam em seu corpo enquanto dormia”.

Na adolescência, passava seu tempo coletando animais mortos pela rua para depois examiná-los anatomicamente. Gostava, também, de torturar animais vivos e, quando mortos, empalar as cabeças em florestas – como se espantalhos fossem.

Quando adulto, virou alcoólatra, tendo sido um dos motivos de sua expulsão do exército americano. Também foi preso por desordem e embriaguez. Em 1986, ficou recluso por ter se masturbado na frente de dois meninos. Três anos depois foi novamente encarcerado, mas agora em razão de ter abusado sexualmente de crianças. Sob condicional, dormia no presídio, mas podia sair para trabalhar durante o dia. As autoridades não sabiam que, nesse pequeno período de liberdade, praticava atrocidades dignas de enredos de Stephen King.

O ‘MODUS OPERANDI’

Se Dahmer tivesse utilizado a sua inteligência e determinação para o bem, certamente viveríamos em um mundo melhor. Mas não foi o caso. Para satisfazer a sua lascívia homossexual, seduzia as suas vítimas em boates ou sauna gays.  Quando sua presa entrava em sua casa, o canibal a drogava e matava-a com suas mãos – normalmente por estrangulamento. Com a vítima morta, daria início ao seu plano macabro: torná-la uma “escrava sexual zumbi”.

Costumava masturbar-se em cima do cadáver e, logo depois, praticava sexos anal ou oral com o defunto. Logo após, “guardava” o corpo para, quando sentisse vontade, voltar a copular. Fotografava todo o processo criminoso e dizia sentir prazer ao rever as fotos. Quando o cadáver se tornava “intragável”, abria o tórax e ficava deslumbrado com a visão anatômica do corpo humano. Disse que seu fascínio era tão grande que mantinha “relações sexuais com os órgãos”.

Após essa fase, passava, então, a esquartejar o corpo. Separava as partes que considerava “úteis” das “inúteis”. A partir daí, não tinha mais prazeres sexuais, senão gastronômicos. Isso mesmo: tinha grande apreço aos corações e tripas. Um de seus pratos preferidos era o croquete de carne humana. Sem esquecer dos músculos fritos. Relatou que tinha ereções durante suas refeições. Acreditava que, comendo-as, as vítimas poderiam ter sobrevida dentro de seu corpo.

Uma de suas maiores decepções foi com o gosto de sangue humano: confessou não ser agradável ao seu paladar. Ao que parece aprendeu muito de química com seu pai, pois utilizava produtos químicos para transformar carnes e ossos em líquido – ao ponto de poder escoar o material humano pelo ralo.

Guardava os crânios de suas vítimas como troféus de campeonatos esportivos. Receando que alguma visita desconfiasse de suas “decorações”, pintava as caveiras de cinza para dar a impressão de que eram instrumentos de estudantes de medicina. Tinha tanto orgulho de seus crânios que projetou transformar a sua casa em um santuário, a fim de melhorar a sua vida social e sua situação financeira.

A DESCOBERTA

O apartamento de Dahmer foi descoberto ao acaso, a partir de uma ronda de dois policiais, nas proximidades da Universidade de Marquette, em Milwaukee, Wiscosin. Os oficiais prenderam um homem negro que corria pelas ruas algemado, pensando se tratar de um fugitivo. O rapaz se identificou como Tracy Edwards, de 32 anos, e mencionou que estava em um encontro homossexual quando foi vítima de uma tentativa de homicídio. Ainda que relutantes com a história, os policiais se deslocaram até o endereço informado por Edwards.

Os policiais foram atendidos por um homem educado, que, de imediato, se ofereceu para buscar as chaves das algemas que estavam no quarto. Desconfiado, um dos oficiais se deslocou até o corredor da residência e percebeu que as paredes estavam cobertas por fotografias de cadáveres, vísceras e cabeças decepadas. Dahmer havia sido descoberto. As surpresas encontradas no interior do imóvel deixariam muitas pessoas completamente perplexas. Na pia da cozinha, estava um torso humano rasgado; na tábua de carne próxima, um pênis fatiado, pronto ser cozido; na geladeira, uma cabeça em estado avançado de decomposição; no congelador, três cabeças acondicionadas em sacos plásticos. Além de diversos restos humanos, foram também encontrados tonéis repletos de torsos apodrecendo.

Os oficiais identificaram os restos mortais de 11 vítimas diferentes, todos homens, sendo a maioria negros. No total, Jeffrey Dahmer matou 17 pessoas, entre os anos de 1987 e 1991. Contudo, foi processado pelo Estado de Wisconsin por apenas 12 homicídios (de primeiro grau, na classificação norte-americana).

O JULGAMENTO

Dahmer foi levado a julgamento em julho de 1992. Ao ser questionado sobre sua declaração, disse ser culpado dos crimes pelos quais estava sendo acusado. Surpreendido com a informação, contrária à sua orientação inicial, o advogado Gerald Boyle direcionou seus esforços para que o júri considerasse Dahmer mentalmente insano.

A Defesa apresentou 45 testemunhas durante o julgamento, as quais relataram o comportamento estranho do acusado e suas desordens mentais e sexuais. Por outro lado, a Acusação, representada pelo promotor Michael McCann, demonstrava que Dahmer era frio, premeditado e perfeitamente capaz de controlar seus impulsos.

A Defesa insistiu na tese da inimputabilidade, afirmando que Dahmer era “um trem desgovernado nos trilhos da loucura”A Acusação rebateu fortemente: “Ele não era um trem desgovernado, ele era o engenheiro!”.  

Após cinco horas de deliberação, o júri chegou ao veredicto: Jeffrey Dahmer era culpado pelas múltiplas acusações de homicídio formuladas pela Acusação. Sua sentença: 957 anos de reclusão.

A MORTE NA PRISÃO

Dahmer foi recolhido no Columbia Correctional Institute, em Portage, Wisconsin. Embora inicialmente não fizesse parte da população geral da prisão, ele conseguiu convencer as autoridades penitenciárias a lhe permitir contato com outros detentos. Com o tempo, passou a se alimentar e trabalhar com os demais presos.

Em 28 de novembro de 1994, os agentes penitenciários do instituto deixaram Dahmer para trabalhar na companhia de dois outros presos: Jesse Anderson, um homem que havia assassinado a própria esposa, e Christopher Scarver, preso por homicídio em primeiro grau. Quando os agentes retornaram, 20 minutos depois, a cabeça de Dahmer havia sido esmagada. Jeffrey Dahmer morreu na ambulância, a caminho do hospital.


REFERÊNCIAS

CASOY, Ilana. Serial killers: louco ou cruel? Rio de Janeiro: Darskide, 2014.

NEMETH, Charles P. Criminal law. 2. ed. Boca Raton: CRC Press, 2012.

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Henrique Saibro

Advogado. Mestrando em Ciências Criminais. Especialista em Ciências Penais. Especialista em Compliance.

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