‘João sem Deus’: série ‘true crime’ foge do tradicional e da ‘fetichização’ do abusador; entenda
Série “João Sem Deus” conta dramática história de abusos e fé em Abadiânia
No centro do Brasil, a pequena cidade de Abadiânia ganhou notoriedade mundial em 2018 quando o médium João de Deus foi preso por uma série de crimes sexuais. A história desses eventos chocantes agora serve de pano de fundo para a nova série “João Sem Deus“, dirigida por Marina Person. Essa série traz para a tela a história de duas irmãs, Cecília (interpretada por Karine Teles) e Carmen (interpretada por Bianca Comparato), cujas vidas foram drasticamente alteradas pelos eventos em Abadiânia.
Cecília, após ter sido abusada, deixa o país, enquanto Carmen torna-se uma fervorosa assistente do médium, acreditando ter presenciado o milagre da cura da irmã. A tensão da trama cresce quando as duas irmãs se reencontram décadas depois, na sequência das denúncias feitas na TV.

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Porque “João Sem Deus” é diferente das demais narrativas atuais?
Comparato enfatiza que “João Sem Deus” é único por sua abordagem da história. “Existe o perigo de se tornar obsessivo pelo abusador ou assassino em séries de crimes reais. Inadvertidamente, você pode se encontrar torcendo pelo vilão e percebendo sua humanidade. Essa é uma armadilha que nós podemos cair, mesmo com os avanços na maneira de divulgar os nomes destes criminosos na mídia”, adverte Comparato.
Ela garante que a série é importante precisamente porque difere de outras narrativas, evitando glorificar o abusador.
Qual o papel das vítimas na história?
Em “João Sem Deus”, as vítimas têm destaque. A personagem Ariane (Maria Clara Strambi), filha de Carmen, só percebe que foi abusada após ouvir o depoimento de outras mulheres. Strambi reflete sobre a complexidade de sua personagem: “Como é para uma pessoa que teve as bases da vida construídas ali, assistir tudo desmoronar diante dos seus olhos? Essa é uma atmosfera de muita angústia e tensão. Há muitas perguntas sem respostas”.
Como essa série pode impactar mulheres e homens?
As atrizes acreditam que a série pode afetar homens e mulheres de maneiras diferentes. Para as mulheres, especialmente aquelas que passaram por abusos, o programa pode servir como uma forma de reconhecimento e validação de suas experiências.
“Falar desse crime horroroso, cometido por tanto tempo e através do olhar das mulheres, vai fazer com que as mulheres que assistam se sintam vistas e contempladas”, diz Karine Teles. Ela espera que a série ajude as mulheres a se sentirem menos sozinhas em suas experiências de violência e que contribua para desconstruir o estigma e as desculpas que muitas vezes minimizam o sofrimento das vítimas.