Jogo do Bicho: desvendando a maior loteria ilegal do mundo

Ele já existe há 125 anos, é proibido por lei, mas ainda assim é uma das maiores loterias ilegais do mundo. Sim, estamos falando do Jogo do Bicho, uma instituição tipicamente brasileira. Ele surgiu como uma antiga rifa de zoológico e hoje movimenta uma quantia exorbitante de dinheiro por ano. Mas como explicar a alguém que não é do Brasil esta prática tão peculiar?

Essa curiosa questão levou o cientista político Danilo Freire a decifrar os mecanismos que regem este complexo sistema, que demonstra uma notável resistência, apesar de ser ilegal. Com o intuito de compreender as estratégias de sobrevivência deste negócio multimilionário Freire utilizou ferramentas da economia, que o ajudaram a chegar a conclusões esclarecedoras.

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A sobrevivência do Jogo do Bicho no Brasil

A primeira coisa que o cientista político esclarece é que o Jogo do Bicho deve ser analisado como uma empresa capitalista, já que ele foi criado com o propósito de gerar lucro. Neste sentido, os bicheiros agem de acordo com a lógica do custo-benefício, sempre buscando melhorar suas condições e oportunidades.

Neste contexto, a teoria da escolha racional, que é uma das ferramentas da economia usadas por Freire, pressupõe que as pessoas buscam sempre aprimorar seu bem-estar e tentam tomar as melhores decisões, ao passo que se esforçam para aumentar suas oportunidades.

Como o Jogo do Bicho resiste às mudanças históricas?

A sobrevivência do Jogo do Bicho por mais de 30 governos no Brasil, de ditaduras a democracias, surpreende e levanta questionamentos. O jogo surgiu em 1892 e se adaptou às circunstâncias históricas e aos diferentes contextos econômicos e sociais ao longo do século 19. Entre outros, Freire destaca quatro aspectos fundamentais que permitem explicar a permanência do jogo do bicho: o crescimento da população urbana excluída do mercado de trabalho, o fluxo de imigrantes com redes familiares que incentivavam a participação no comércio, o aumento na circulação de capital e um sistema judicial fraco na repressão criminal.

Desafios e estratégias do Jogo do Bicho

A estrutura do Jogo do Bicho apresenta três níveis de hierarquia: os bicheiros ou anotadores, os gerentes e os banqueiros. Naturalmente, o negócio enfrenta desafios e usa estratégias para garantir sua sobrevivência e lucratividade. Uma dessas estratégias é a construção de uma forte reputação de honestidade, que é alcançada através da publicação dos resultados dos sorteios à vista de todos, pagamentos pontuais e uma fórmula de multiplicador fixo para os prêmios.

Outra prática importante detectada por Freire foi o financiamento de atividades culturais, principalmente das escolas de samba do Rio de Janeiro, que além de darem emprego para os moradores, também contribuem para o aumento do turismo na cidade e são consideradas um símbolo nacional.

Todos esses mecanismos contribuem para a consolidação da confiança pública no jogo e, consequentemente, para a manutenção de sua operação. Mas, apesar de todas essas análises, o pesquisador acredita que ainda existem questões a serem mais bem exploradas, como a relação do jogo com o tráfico de drogas e a conexão entre bicheiros de diferentes estados.

Legalização dos jogos de azar no Brasil: uma questão em aberto

Falando sobre o projeto de lei de 2014, que propõe a legalização dos jogos de azar no Brasil, incluindo o Jogo do Bicho, Freire diz ser favorável à medida. Segundo ele, cada um tem o direito de gastar seu dinheiro como quiser e não se convence pelo argumento de que a legalização levaria a vícios. Contudo, ele deixa claro que isso não significa que os bicheiros estejam interessados em pagar impostos.