Jornalista americano é libertado por ditadura de Mianmar
Danny Fenster, jornalista de 37 anos, voou para Qatar depois de receber liberdade e anistia, da sentença de 11 anos de prisão, da junta militar que governa o país no sudeste asiático, a ditadura Mianmar, desde o golpe de Estado em fevereiro.
O ex-diplomata Bill Richardson foi responsável pela negociação. Ex-governador do Novo México, o democrata é um dos poucos estrangeiros a ter acesso ao dirigente da ditadura Mianmar, Min Aung Hlaing.
Fenster era editor-chefe da revista digital Frontier Myanmar e foi considerado culpado pelos crimes de incitação, associação a grupos ilegais e violação das leis de imigração. Recebeu também acusações de sedução e terrorismo, podendo ser condenado a mais 20 anos de prisão por cada crime.
Após desembarcar no Aeroporto Internacional Hamad, em Doha, Fenster parecia frágil, mas afirmou para jornalistas que não foi espancado ou privado de comida durante sua detenção:
Me sinto ótimo e muito feliz por estar voltando para casa. Você fica um pouco louco e, quanto mais o tempo se arrasta, mais preocupado você fica daquilo nunca acabar. Minha maior preocupação era essa: permanecer são.
O jornalista ficou detido num local conhecido por ser o destino de opositores das Forças Armadas de Mianmar, o Tatmadaw. O local possui o histórico de espancamento e torturas durante as décadas comandadas por militares.
Questionado sobre maus-tratos, Fenster afirmou:
Fui preso e mantido em cativeiros, então suponho que sim. Mas, fisicamente, eu estava saudável.
A emissora pertencente aos militares de Mianmar, Myawaddy TV, informou que Fenster recebeu a anistia após os pedidos de Richardson e dois outros negociadores japoneses, a fim de “manter a amizade entre os países”.
Fenster foi preso ao tentar deixar Mianmar em direção a Michigan, estado onde nasceu, para surpreender sua família.
Os seus familiares afirmam que estão felizes com a libertação e ansiosos pelo reencontro com Danny.
Somos imensamente gratos a todas as pessoas que ajudaram garantir a sua libertação, especial ao embaixador Richardson, e aos nossos amigos e ao público que expressou seu apoio e esteve do nosso lado, enquanto suportamos esses longos e difíceis meses.
O Departamento de Estado dos EUA já vinha pedindo a libertação de Fenster, classificado como “profundamente injusta”, segundo fontes ouvidas.
Washington temia que o envolvimento do ex-diplomata Richardson pudesse atrasar a libertação de Fenster, podendo os militares de Mianmar usar o jornalista como moeda de troca para obter concessões do Ocidente.
Diversos profissionais locais em Mianmar já tiveram que deixar a região ou sofreram acusações semelhantes, entretanto, Fenster foi o primeiro jornalista ocidental a ser condenado no país que vive um crescente domínio autoritário, desde que os militares depuseram o governo civil e assumiram o poder.
A Organização das Nações Unidas (ONU) saudou a libertação do jornalista e apontou a atitude como um passo positivo, entretanto, reiterou o pedido de liberdade a pelo menos outros 47 jornalistas.
Fenster afirmou que vai se juntar aos esforços para libertação dos seus colegas de profissão.
Mais de 10 mil pessoas foram presas desde o golpe militar e 1.260 foram mortas, de acordo com a Associação de Assistência a Prisioneiros Políticos de Mianmar, em sua grande maioria, em atos políticos e protestos de manifestantes, a fim do fim do regime autoritário e a volta da democracia.
A ex-líder civil de Mianmar e vencedora do Nobel da Paz, Aung San Suu Kyl, recebeu novas acusações criminais da junta militar nessa terça feira, totalizando em 11 processos que somam sentenças de mais de cem anos de prisão.
Presa desde o golpe de Estado, ela responde por diversos crimes e agora responderá também por fraude eleitoral e abuso de poder.
Seu julgamento segue em segredo, sem espectadores independentes e seus advogados passaram a ser objetos de um mandado de silencio.
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