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Leandro: anjo ou monstro?

Leandro: anjo ou monstro?

Estefani é uma adolescente de 15 anos, nascida e crescida na periferia de Curitiba, entregue às drogas e aos meninos do bairro. Já tem duas filhas pequenas, criadas mais pela avó (sua mãe) do que por ela mesma.

A mãe, Sueli, ainda bem jovem (47 anos), cria as netinhas, cuida da mãe (Marta, 66 anos) e tenta, na medida do possível, cuidar da filha Estefani, impondo alguns limites que o mais das vezes não são seguidos quando não são, pior ainda, rebeldemente refutados ou agredidos.

A impotência de Sueli perante Estefani alimenta a rebeldia e a pretensa independência da menina-mãe. Estefani mal para em casa, vive nas ruas, divide-se entre cocaína, diversos meninos e roupas de marca.

Brigas recorrentes em casa, quando lá está, fazem com que tudo o que a adolescente mais queira é a morte de sua mãe. Desejo frio, adolescente, impulsivo, irado, desconfiado, daqueles que, afinal, nem é para se realizar!

Estefani pede ao namoradinho Fernando para que mate sua mãe (um pedido “singelo” como esse). Fernando, completamente envolvido por aquele diabo na terra, recusa o pleito, mas indica um amigo: Leonardo. Este também recusa, mas indica outro amigo: Leandro.

Leandro é um monstro! Aos 20 anos de idade, assalta casas em Curitiba – mais de vinte no currículo! É preso, é solto. Nos assaltos, tortura e humilha e agride suas vítimas. Conhece armas – tem até uma “restrita”. Mata por encomenda, e ganha uma graninha: coisa pouca. Leandro é figura conhecida tanto no ementário policial quanto no bairro em que mora, o Pinheirinho. Com sua Honda CG preta, lidera uma turminha da pesada.

Leandro é um anjo! Aos 20 anos de idade, trabalha em dois empregos (num deles, com sua Honda CG preta, é entregador de pizza), estuda, quer se aprimorar e melhorar sua condição de trabalho. Namora firme há dois anos – até já casou! (mora com ela, no Pinheirinho). Tem uma filhinha bebê, de poucos meses. Vai à Igreja todas as semanas. Ama sua família: sua mãe, seu pai, suas irmãs, sua esposa e filha, seus sogros e cunhadas.

Leandro, amigo de Leonardo, já foi até condenado por roubo, sequestro, tráfico… foi ele que matou Sueli. Merece ser condenado pelo homicídio qualificado. Homicídio horrendo, injustificável. Não há criminologia crítica que sustente sua “inocência”.

Leandro, que nem conhece Leonardo, vai a júri amanhã pela morte de Sueli. Merece ser absolvido. Não foi ele! Afinal, Leandro é um anjo! Será absolvido, pois é JUSTO que o seja. anjo ou monstro anjo ou monstro

André Peixoto de Souza

Doutor em Direito. Professor. Advogado.

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