NoticiasDireito Penal

Tragédia sem fim: Mãe de Eliza Samudio abre o coração sobre sua dor insuportável

Ao final de um dia cansativo, Sônia de Fátima, que dorme sozinha desde a morte do marido há 11 meses, realiza um ritual inconsciente: inclina seu corpo para o lado e abraça as pernas com firmeza. Isso acontece todas as noites desde que sua filha, Eliza Samudio, foi brutalmente assassinada.

Sônia assiste ao mesmo filme há mais de 4.000 noites, que retrata a vida de Eliza Samudio desde a infância até o nascimento de seu neto, Bruninho. O filme também mostra a violência que Bruninho sofreu desde a barriga da mãe, quando seu pai, Bruno Fernandes, tentou obrigar Eliza a abortar mais de uma vez.

Depois do nascimento de Bruninho, ele foi abandonado em uma casa, enquanto Eliza enfrentava um horror que terminou com seu desaparecimento.

Sônia, a mãe de Eliza Samudio, relata que ainda não encontrou paz e não consegue superar a morte de sua filha. Ela acredita que o luto não pode ser superado sem respostas claras e um adeus digno.

A mãe de Eliza Samudio nunca conseguiu se despedir de sua filha, pois os restos mortais da modelo nunca foram encontrados

Infelizmente, Sônia não teve a chance de se despedir de sua filha, pois os restos mortais nunca foram encontrados e os culpados pelo crime nunca revelaram o que aconteceu.

Sônia queria enterrar sua filha e poder dizer adeus de maneira adequada, mas isso não foi possível. A vida de Sônia agora gira em torno de seu neto, Bruninho, que tem 13 anos.

Bruninho recebe acompanhamento psicológico desde cedo e, embora já não questione a avó sobre seus pais, ele ainda tem crises de ansiedade. Ele tem o sonho de ser jogador de futebol profissional.

De acordo com Sônia, as vezes, quando ele fica nervoso e irritado, ela aconselha que ele fale com sua psicóloga se não quiser lhe contar o que está acontecendo.

“Eu espero que ele não precise de medicação. Bruninho sofreu diretamente com o afastamento abrupto de sua mãe quando era apenas um bebê e também sofreu agressões. Ele ainda carrega as marcas do que aconteceu no passado.”

Sônia chora quando fala sobre sua filha, Eliza Samudio, cujos restos mortais nunca foram encontrados, mesmo depois da condenação de seus assassinos. Ela sente que a Justiça falhou em dar a ela a chance de dar um enterro digno para sua filha. Para ela, se os assassinos tivessem empatia e revelassem o que fizeram e onde estão os restos mortais, ela poderia tentar recomeçar sua vida.

Bruno Fernandes foi condenado por não pagar a pensão de Bruninho e pagou uma quantia significativa para evitar a prisão. No entanto, ele voltou a ficar inadimplente. Bruninho sabe disso, mas a avó tenta não discutir o assunto perto dele. Sônia só quer que ele possa ter uma vida normal, apesar de tudo o que aconteceu.

Sônia também menciona que Bruno foi condenado a pagar uma indenização de R$ 650 milhões ao filho e pediu um exame de DNA para provar a paternidade. Bruno alegou que o menino não tem seus traços, mas Sônia tenta protegê-lo dessa desconfiança, sabendo que ser renegado a vida toda pode traumatizá-lo.

O ditado de que aquilo que não nos destrói nos fortalece é algo que a mãe de Eliza Samudio vive diariamente. Mesmo que haja momentos em que ela pense em desistir, ela encontra força na resiliência que a dor lhe proporcionou e no exemplo de sua filha, que lutou para sobreviver e proteger seu filho em meio ao caos que antecedeu sua morte brutal.

Apesar de seus dias serem predominantemente cinzentos, ela não desiste, pois tem a responsabilidade de cuidar de seu neto e mostrar a ele o quanto sua mãe o amou e lutou por ele.

Sônia acredita que, se o crime tivesse ocorrido hoje, a lei do feminicídio e a sensibilização da opinião pública para os direitos das mulheres teriam mudado o curso do caso. Ela critica a imprensa machista da época, que desacreditou e desvalorizou sua filha, principalmente ao permitir que a defesa do assassino se baseasse na imagem de Eliza como garota de programa.

Ela espera que, um dia, alguém revele onde estão os restos mortais de sua filha para que ela possa finalmente se despedir dela de maneira afetuosa e tardia, mas merecida.

Fonte: TERRA

Daniele Kopp

Daniele Kopp é formada em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) e Pós-graduada em Direito e Processo Penal pela mesma Universidade. Seu interesse e gosto pelo Direito Criminal vem desde o ingresso no curso de Direito. Por essa razão se especializou na área, através da Pós-Graduação e pesquisas na área das condenações pela Corte Interamericana de Direitos Humanos ao Sistema Carcerário Brasileiro, frente aos Direitos Humanos dos condenados. Atua como servidora na Defensoria Pública do RS.

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo