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Massacre em SP no Carandiru completa 30 anos sem prisões de PMs

Neste domingo, dia 2 de outubro, o massacre de Carandiru, em São Paulo, completa 30 anos, e sem as prisões dos policiais militares condenados pelos assassinatos dos detentos. 

Além disso, ainda não houve um desfecho do caso na Justiça, já que as defesas dos agentes pedem a redução das penas.

Existe a possibilidade de que o caso se arraste por pelo menos mais cinco anos, até que todos os recursos sejam julgados.

Como aconteceu o massacre do Carandiru em 1992

O massacre no Carandiru teve grande repercussão pela morte de 111 detentos, ocorrido em 2 de outubro de 1992 no Complexo Penitenciário de Carandiru, em São Paulo, após uma rebelião promovida pelos presos. Os presos do Pavilhão 9 haviam queimado colchões e incendiado as celas, quando a tropa de choque cercou o Carandiru e os policiais entraram com cães, bombas e armas pesadas.

No total, segundo balanço oficial realizado pela Secretaria de Segurança Pública, foram contabilizados 111 mortos (todos eram detentos), 35 feridos e 3.500 tiros disparados, tendo 540 acertado seus alvos. Segundo os depoimentos dos sobreviventes, a violência começou na escadaria de acesso ao segundo andar. Os presos contaram ainda que muitos feridos foram atirados dos andares mais altos pelo vão do elevador.

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Luiz Paulino, ex-detento e sobrevivente do Massacre do Carandiru. Imagem: G1

Luiz Paulino, um dos detentos sobreviventes, contou como foi a experiência de presenciar o massacre.

“Ouvimos muitos disparos de metralhadoras, disparos e ações dos próprios policiais, pegando os estiletes dos egressos e matando a punhalada, a estiletada, os presos que estavam sob a tutela do Estado”.

74 policiais foram julgados e condenados à prisão pelo caso, em 2013 e 2014. A defesa alegou que eles teriam atirado nos presos apenas para se defender e cumpriram ordens superiores, o que não foi acolhido no juízo de 1º grau.

Em 2016 o TJSP anulou as condenações, sendo que em 2021 o STJ restabeleceu-as, fundamentando sua decisão na soberania das decisões proferidas pelo júri.

O massacre foi noticiado no mundo inteiro. Nos Estados Unidos, centenas de emissoras de TV exibiram imagens da rebelião. Jornais americanos e europeus usaram palavras como “sangrento”, “atrocidade” e “massacre”.

O Brasil foi denunciado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização de Estados Americanos (OEA). A Corte expediu quatro recomendações ao Brasil após o caso, sendo: investigação completa, imparcial e efetiva para verificar e processar todas as pessoas responsáveis pelas violações de direitos humanos acontecidas em 2 de outubro de 1992; garantia de que as vítimas do Massacre fossem identificadas para que as famílias fossem devidamente indenizadas; modificar a estrutura do sistema prisional brasileiro para combater o congestionamento da população carcerária; e treinamento para policiais e agentes penitenciários para garantir solução pacífica em casos de motins; além da adoção de medidas necessárias para o cumprimento do artigo 28  da Convenção Americana de Direitos Humanos em relação aos temas de competência do estado de São Paulo.

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Pms entrando em Carandiru. Imagem: G1

Em setembro de 2002 os últimos detentos deixaram o Carandiru e foram transferidos para unidades do interior do estado de São Paulo. O complexo penitenciário foi desativado e em seguida, demolido.

Agora um projeto de lei está tramitando na Câmara dos Deputados prevê a anistia dos policiais envolvidos.

Fonte: G1

Daniele Kopp

Daniele Kopp é formada em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) e Pós-graduada em Direito e Processo Penal pela mesma Universidade. Seu interesse e gosto pelo Direito Criminal vem desde o ingresso no curso de Direito. Por essa razão se especializou na área, através da Pós-Graduação e pesquisas na área das condenações pela Corte Interamericana de Direitos Humanos ao Sistema Carcerário Brasileiro, frente aos Direitos Humanos dos condenados. Atua como servidora na Defensoria Pública do RS.

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