Médicos do Samu largam o trabalho antes da hora e deixam pacientes agonizando por socorro: há indícios de crimes?
Reportagem constatou que médicos do SAMU não estavam cumprindo nem 60 horas a cada 100
Uma reportagem feita pela RBS TV com o Serviço de Atendimento Médico com Urgência (SAMU) constatou que em média, a cada 100 horas de trabalho contratadas junto a médicos, os especialistas não cumprem 60, recebendo pela totalidade da carga horária.
As irregularidades foram constatadas pela reportagem em três diferentes datas e em uma delas, uma paciente pedindo socorro morreu. Após a denúncia do caso, na última quinta-feira, (24), a Secretaria Estadual da Saúde (SES) resolveu abrir uma sindicância para apurar o caso.
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Como funciona o SAMU de Porto Alegre
O SAMU de Porto Alegre é uma das maiores centrais do serviço em todo o Brasil. Ele atende um total de 269 municípios do Rio Grande do Sul, e todas as vezes que algum morador dessas cidades liga para o 192, ele é atendido, primeiramente, por um telefonista dessa central. Depois, o chamado é encaminhado para uma fila de espera até o atendimento por parte de um médico, que, se for o caso, aciona uma ambulância para socorrer o paciente e eventualmente levá-lo a um hospital.
No dia 10 de maio, a reportagem da RBS TV esteve pela primeira vez na central telefônica do SAMU, em Porto Alegre. Lá, apenas um trabalhador da saúde sabia da presença da equipe. Em média, 10 mil ligações pedindo socorro são atendidas diariamente pela equipe no local.
Ouvido pela equipe da reportagem, Cleiton Félix, que também é advogado, e já atua há 13 anos como enfermeiro na equipe do Serviço de Urgência, disse que o que está acontecendo na central telefônica é um “escândalo”.
“Depois que escurece, das 19h em diante, existe um revezamento. A ‘escala da escala’. É uma escala pactuada entre os profissionais, que se ajustam para fazer um plantão mais curto”, explica Félix.
Um ex-operador de rádio do serviço, que prefere não ser identificado, confirmou o relato de Félix:
“Sempre foi assim. Eles faziam a ‘escala da escala’. Eles reduziam a quantidade de médicos para poder descansar”, comenta o ex-operador.
A demora na prestação de serviço
No último dia 12 de junho, a família de Maria Isolete, de 72 anos, ligou para o SAMU de Porto Alegre em busca de atendimento pois a idosa estaria passando mal.
Na manhã do mesmo dia, um enfermeiro do SAMU comunicou a reportagem o que estava acontecendo em tempo real e enviou uma foto do ambiente de trabalho, praticamente vazio, onde havia apenas dois médicos trabalhando enquanto a lista de espera de moradores pedindo atendimento só aumentava.
A família de Maria Isolete aguardou 22 minutos na lista de espera e um total de 48 minutos até ser atendida. A idosa tinha câncer no pulmão e morreu no hospital. Além da doença, as causas da morte apontaram infarto agudo do miocárdio e hipertensão arterial.
O que dizem os especialistas
Ouvido pela reportagem, o professor de Direito Administrativo e especialista em gestão pública José Luiz Blaszak disse que a prática deveria ser investigada por autoridades policiais, já há indícios de uma série de crimes, como falsidade ideológica e omissão de socorro.
“Estamos diante de uma caracterização de crime, improbidade administrativa, ferindo a ética médica. Não é uma eventualidade, não é um equívoco que aconteceu uma ou outra vez. Existe uma organização sistemática para lesar a administração pública”, explica o especialista.
O que disse a Secretaria de Saúde
Por meio de nota assinada pela própria titular da pasta, Arita Bergmann, a Secretaria de Saúde disse:’Por meio de nota assinada pela própria titular da pasta, Arita Bergmann, a Secretaria de Saúde disse:
“A SES não compactua com qualquer irregularidade na administração pública. Este Gabinete da SES teve ciência sobre estes fatos na quarta-feira ao meio-dia e, de imediato, determinou a abertura de processo administrativo, que culminou com a assinatura da Portaria n. 802/2023-DGESP instaurando sindicância para apurar eventuais irregularidades já na quinta-feira, dia 24 de agosto, publicada nesta sexta-feira no Diário Oficial do Estado.
Na presença de Diretores da SES e de representante da Procuradoria-Geral do Estado, a Secretária da Saúde instalou a Comissão nesta sexta-feira, solicitando à Comissão a agilidade necessária ao deslinde do caso e a punição dos responsáveis em caso de comprovada irregularidade.“
Fonte: G1