Militar condenado por tortura e morte de cantor na ditadura se suicida para evitar prisão
Ele cumpriria sua sentença na prisão de Puntateuco
O ex-militar aposentado do Exército chileno, Hernán Carlos Chacón Soto, que foi um dos sete oficiais condenados pelo Supremo Tribunal do Chile a 25 anos de prisão por sua participação na tortura e assassinato do cantor e compositor Víctor Jara em 1973, cometeu suicídio na terça-feira, 29 de agosto. Isso ocorreu momentos antes de ser preso e levado para a prisão de Puntateuco, onde ele cumpriria sua sentença. De acordo com relatos da imprensa local, agentes da seção de direitos humanos das forças de segurança chilenas compareceram à casa do oficial de 86 anos pela manhã, localizada em Las Condes, na capital.
Leia mais:
Crime de lesa-pátria: saiba quais condutas estão na lei
Caso 123Milhas é pirâmide? STF determina que donos compareçam à CPI
Quando confrontado com a prisão iminente, o ex-militar chileno solicitou alguns medicamentos. Nesse momento, conforme relatado pelo procurador Claudio Suazo, ele tirou a própria vida usando uma arma de fogo. Durante todo o processo, a defesa do ex-militar argumentou que, durante os dias de repressão intensa após o golpe liderado por Augusto Pinochet e outros líderes militares, ele era apenas um major do Exército encarregado da segurança perimetral do Estádio Nacional do Chile, em Santiago. No entanto, a sentença refutou essa alegação, sustentando que ele possuía conhecimentos táticos e de inteligência.
A sentença afirmou que o ex-militar participou da seleção de quem seria separado para interrogatório e “do destino final” desses indivíduos
A sentença alegou que Chacón participou da seleção e interrogatório dos cerca de 5 mil prisioneiros que foram levados ao estádio após o golpe violento que derrubou Salvador Allende. A ditadura resultante, que durou 17 anos a partir de 11 de setembro de 1973, resultou em 3,2 mil vítimas, entre mortos e desaparecidos. A sentença afirmou que o brigadeiro desempenhou um papel na seleção dos prisioneiros que seriam submetidos a interrogatório e no “destino final” desses indivíduos. O documento ressaltou que a estrutura de comando dentro do Estádio Nacional segue uma ordem imposta.
Víctor Jara, afiliado ao Partido Comunista e conhecido por suas músicas como “Lembro-me de você Amanda”, “O direito de viver em paz” e “Manifesto”, foi preso durante a ditadura enquanto trabalhava como professor na Universidade Técnica do Estado. Ele foi torturado por vários dias no estádio e acabou morrendo aos 40 anos, com 44 ferimentos a bala. No mesmo caso, os juízes condenaram os sete ex-militares pela morte e sequestro de Littré Quiroga, ex-diretor penitenciário.
O corpo de Quiroga, também mostrando sinais de tortura, foi encontrado junto com o corpo de Víctor Jara, próximo a uma ferrovia nos arredores de Santiago. A sentença concluiu que Chacón Soto estava portando uma arma que correspondia aos ferimentos que causaram a morte de Víctor Jara e Littré Quiroga, de acordo com as provas forenses.
Fonte: O POVO