Mulheres recorrem a sites jurídicos para desvendar o passado criminal dos homens antes de encontros
Por receio de enfrentar violência e assédio, muitas mulheres optam por pesquisar informações em sites jurídicos antes de sairem com homens que conheceram online ou por meio de aplicativos. Louize Lima, uma jornalista de moda, afirma que essa é uma decisão baseada em sua perspectiva de autocuidado. Antes de conhecer seu atual namorado, ela verificou no site JusBrasil se ele possuía algum registro criminal relacionado a violência contra a mulher, assédio ou importunação sexual.
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Essa prática de checar o histórico criminal dos possíveis pretendentes vem se tornando uma forma de proteção cada vez mais comum. O JusBrasil é um site que fornece informações jurídicas e permite realizar consultas sobre processos legais.
“Minha decisão foi motivada pela minha priorização do autocuidado. Eu não sairia com alguém que me causasse danos, muito menos que representasse outros tipos de riscos. Lembro que era agosto do ano passado e eu estava um pouco nervosa. Sempre que me encontro nessa situação, procuro abordar a situação de forma racional. Pesquisei o nome dele no site JusBrasil e não encontrei nada”, relata ela.
De acordo com a jornalista, eles tiveram um primeiro encontro perfeito. O encontro casual se transformou em amor e atualmente estão em um relacionamento sério e estável. Louize afirma que é difícil encontrar o amor, por isso é preciso ter cautela.
Após alguns meses juntos, a jornalista compartilhou com o parceiro sobre sua pesquisa em sites jurídicos, e eles brincam sobre o assunto
Após alguns meses juntos, ela até mesmo compartilhou com o parceiro sobre sua pesquisa em sites jurídicos, e eles brincam sobre o assunto. “Ele ri muito e entende que a segurança é fundamental. Ele concorda que eu estava certa. É necessário ter consciência do amor-próprio acima de nossos desejos“, completa.
Embora a história de Louize tenha tido um final feliz, a arquiteta Juliana teve uma experiência desagradável ao pesquisar o nome de seu pretendente no site JusBrasil. Em 2015, quando começou a se envolver mais com o escritor Roberto, ela pesquisou seu nome e descobriu uma ordem de proteção solicitada por sua ex.
“Curiosa, decidi pesquisar o nome dele no Google e me deparei com um processo movido por sua ex-mulher, solicitando uma medida protetiva com base na Lei Maria da Penha, que trata de casos de violência doméstica. Quando confrontei-o, ele reagiu de forma agressiva, chamando a mulher de louca e alegando que ela havia influenciado todos contra ele. Eles até tinham uma filha juntos, mas ele estava proibido de vê-la“, revela Juliana.

Na época, Juliana era bastante jovem e ficou assustada com o histórico do rapaz, então comentou a situação com um amigo. Quando Roberto descobriu, ameaçou-a. “Ele me ligou e disse que iria me processar por difamação. Eu o bloqueei em todas as formas de contato, mas como temos amigos em comum, às vezes ele aparece em alguma foto nas minhas redes sociais. É um tanto estranho“, completa ela. Juliana teve a sorte de encontrar o processo criminal do seu pretendente.
A advogada e professora de direito penal, Carolina Fichmann, explica que essa tática é útil, mas nem todos os crimes são exibidos no site.
“No caso de Juliana, foi uma grande sorte, pois se tratava de um processo de 2015. Acredito que tenha sido um erro do sistema, uma vez que crimes como violência doméstica, assédio e crimes sexuais são mantidos em sigilo e não são exibidos no site JusBrasil”, explica a advogada. Isso ocorre para proteger a privacidade das vítimas. “É bom e ruim ao mesmo tempo, pois impede que os agressores sejam identificados e que detalhes sobre as experiências das vítimas estejam disponíveis“, acrescenta.
Além disso, o JusBrasil começou a cobrar pelo acesso às informações. “Uma alternativa é pesquisar o nome da pessoa no Escavador ou no Google e verificar se houve notícias sobre algum crime. É claro que nem todos os crimes são divulgados, mas a imprensa é uma grande ajuda nesses casos“, sugere a advogada.
Ela ainda ressalta que, mesmo após toda essa pesquisa, se a mulher ainda tiver suspeitas, talvez seja melhor não se envolver com a pessoa. “É possível contratar um advogado que possa ajudar a descobrir se a pessoa cometeu algum crime ou não. No entanto, se você chegar a esse ponto, talvez essa pessoa não seja a mais adequada para se relacionar“, conclui.
Fonte: Marie Claire