O amor não mata
O amor não mata
O amor é per si fecundo, duradouro e genuíno, frequenta os lares e não se esquece dos asilos e tão pouco dos renegados, participa dos nascimentos e ignora a morbidade, afasta com repugnância a cólera que a paixão trás pela rejeição. Entretanto, envolve com doçura os afagos afetuosos que jamais transmitiriam a ira de quem a não detém.
O amor não mata, aliás, ele nem sabe como fazer isso, pois só conhece a vida, nunca passou pela porta do necrotério e tão pouco visitou no leito ou nas grades aquele que o mata em seu nome, pois jamais assinou mandato conferindo tal poder de representação.
O amor não se intitula incondicional, pois até mesmo para exercê-lo, condições existem e devem ser seguidas, caso contrário, não é amor e sim posse.
O tão repetido amor nunca se sentou ao banco do réu, pois, por diversas vezes, gritou em alto e bom som que crime não é amar e sim negar ser amado.
Perdoe-me mais uma vez, mas o amor que tira a vida por desejo, vingança ou sentimento de propriedade exercendo tal direito que não o tem, não é amor e sim ódio disfarçado ou travestido de amor.
A lei pune o fato no momento da ação ou da omissão e reverte-se de formalidades inimagináveis para punir, quem não conhece ou nunca experimentou o que é ser punido, acreditando piamente o autor na irresponsabilidade e não conseqüências dos seus atos, acreditem, por não encontrar na lei o temor necessário, acreditando por derradeiro, que tudo pode e assim o faz.
A deusa Têmis, que representa a justiça, esqueceu-se da sua condição de mulher por conta dos seus olhos vendados e mãos sempre ocupadas.