O crime não perdoa
O crime não perdoa
Mévio era um adolescente com pouco mais de 16 anos.
Sua rotina era quase sempre a mesma, estudava de manhã e passava as tardes soltando pipa.
Em um determinado momento da vida, sabe-se lá qual foi a hora exata que o caminho desandou, Mévio começou a andar com uma galera barra pesada.
Certo dia se viu transportando 15kg de pasta base de cocaína para uma pessoa que conheceu nessa turma.
O serviço era “simples e garantido”. Bastava buscar uma mala na rodoviária e em troca teria uma grana “boa”, além de uma inesquecível noite de sexo com uma das mulheres do grupo.
E lá foi Mévio, pensando em como gastar o dinheiro e como seria o sexo de mais tarde.
Ao chegar na rodoviária, logo viu a pessoa com a mala que precisava pegar.
Eles nem se olharam ou se falaram, um passou a mala pro outro e seguiram direções opostas.
O coração estava a mil por hora, Mévio até suava de tanto nervosismo.
Nessa hora ele já tinha esquecido do dinheiro e do sexo. Pensava apenas no risco de ser preso.
Tudo que ele queria era chegar logo ao destino e se desfazer da maldita mala com drogas.
Mas no meio do caminho, já próximo do local combinado para deixar as drogas, a polícia aborda Mévio, apreende a droga e ele é autuado em flagrante pela prática de ato infracional análogo ao crime de tráfico de drogas (art. 33, Lei 11.343/06).
Para a sorte de Mévio, ele era um adolescente, primário, com residência fixa, o “crime” foi praticado sem violência ou grave ameaça, sendo reintegrado à família, ou seja, foi colocado em liberdade pouco tempo depois.
Aqueles foram os piores dias para Mévio, tudo que ele queria era esquecer o que passou e seguir em frente, ter uma nova vida.
Conheceu pessoas e ouviu histórias que não mais queria lembrar.
O crime não perdoa
Só que Mévio se esqueceu de um pequeno detalhe, o crime não perdoa. Ao ser preso, Mévio perdeu uma grande quantidade de drogas e causou prejuízo a quem pagou por elas.
E essa dívida, mais cedo ou mais tarde, vai ser cobrada, de uma forma ou de outra.
Dito e feito, passados alguns dias da soltura de Mévio, um dos integrantes da organização criminosa (que era a dona da droga que Mévio “perdeu” ao ser preso) aborda o adolescente quando ele saía da escola e fala:
Bora, moleque, o patrão quer falar com você!
De frente para o “patrão”, Mévio ficou sabendo que estava devendo ao tráfico e que teria que pagar o prejuízo.
Dessa vez, para compensar, o “serviço” era roubar um carro (modelo específico) que, após ser clonado, seria utilizado para o transporte de grande quantidade de drogas.
A única opção era “aceitar”, pois a recusa provavelmente significaria a sua morte.
Mévio, coitado, nunca tinha pegado em uma arma de fogo, até aquele dia.
Na hora combinada, Mévio se encontrou com outro indivíduo que também participaria do crime e recebeu dele um revólver calibre 22, devidamente municiado, além de ouvir a seguinte frase:
Vê se não treme, menor. Se precisar usar é só apontar e puxar o gatilho sem dó!
Ele olhou para a arma e logo a colocou na cintura, subindo na moto em seguida.
Ao visualizarem o veículo desejado, desceram rapidamente da motocicleta e logo que Mévio apontou a arma e anunciou o assalto, foi atingido por três disparos de arma de fogo que partiram de dentro do automóvel e morreu naquele exato momento, sem nem sequer ter chance de terminar a frase “é um assalto!”.
Mévio, um simples jovem que nem mesmo conseguiu completar o ensino médio, já foi morto, pois o crime não perdoa.
Esse, obviamente, é um caso hipotético (mas não inverídico) e tenta demonstrar como o tráfico de drogas é o que de mais grave existe em nossa sociedade, responsável diretamente pelos altos índices de violência e insegurança que presenciamos.
Acabar com o tráfico de drogas é salvar a vida de vários jovens, inclusive a de Mévio que, por uma decisão mal tomada, se viram envolvidos na perversa e inescapável teia do crime.