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O “fascínio” da mídia por homicidas em série

O “fascínio” da mídia por homicidas em série

Já reparou que a mídia e a sociedade, no geral, possuem um certo “fascínio” por criminosos seriais killers? 

Esse “encanto midiático” já vem desde os tempos primórdios, principalmente nos meados do século XIX, em que houve um significativo aumento dos crimes em série. Com o crescente índice de pobreza, o chamado “caos urbano” influenciou significativamente no aumento de homicídios, somando-se, ainda, à desigualdade social, o desprezo pelo outro e o despreparo das autoridades para descobrirem os reais contraventores. 

Há jornais, revistas e grandes bilheterias de filmes, que desenham o serial killer como o homem destemido, indiferente a tudo e a todos, com alto poder aquisitivo e diversos amores, que mata por ser uma “vítima da sociedade” ou então para satisfazer seu ego e bel-prazer. Chega a ser um tanto contraditório enaltecer assassinos cruéis e frios, e esquecer as grandes lesadas por tais aberrações, quais sejam, as vítimas e seus familiares. 

Homicidas em série

Os criminosos mais perigosos, principalmente dos Estados Unidos, são os protagonistas de recriações televisivas, onde a vítima passa quase que despercebida, fazendo um papel coadjuvante no meio da história que se embasa na vida e no percurso criminal do homicida. Como bem salienta Rubens Correia Junior:

O homicida em série então atinge sua imagem indelével na cultura pop e geral e se torna um produto muito maior que os sujeitos e vítimas envolvidas. A caçada a tais indivíduos se tornou um produto de Hollywood. A imagem então ultrapassa e suplanta o sujeito (2019, p. 261).   

Ademais, há outro fator preocupante em meio à afoita busca incessante da mídia por casos que gerem grande repercussão nacional, quais sejam, as fake news envolvendo denúncias falsas de crimes, onde, muitas vezes, a repercussão é tão grande, que inocentes acabam respondendo por crimes que sequer foram cometidos.

No Brasil, temos um caso que foi de repercussão nacional, qual seja, o crime brutal cometido contra a dona de casa, Fabiane Maria de Jesus, que foi cruelmente linchada e assassinada sob boatos que sequestrava crianças para as utilizar em rituais de magia negra. Tal notícia viralizou na época, fazendo com que os próprios moradores do litoral de São Paulo fizessem a tal “justiça” com as próprias mãos, executando uma mãe de dois filhos, totalmente inocente e à parte de qualquer boato de sequestro ocorrido na região.


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Na minha modéstia opinião como operadora do direito e integrante de uma sociedade perversa e sem escrúpulos, onde a vida da vítima vale menos do que a de um impiedoso assassino serial, deve a sociedade, e principalmente a mídia, já que os indivíduos muitas vezes agem sob influência da mesma, dar uma maior atenção aos vulneráveis, quais sejam, as vítimas e familiares dos lesados. Afinal, o clamor público parece muito maior quando o criminoso é a parte passiva no fenômeno midiático.

Por fim, termino com a brilhante explanação de Elliott Leyton, segundo o qual:

todos somos humanos, mas os inocentes merecem mais que os culpados. 


REFERÊNCIAS

LEYTON, Elliott. Cazadores de humanos. Barcelona: Alba editorial, 2005. 

CORREIA JR., Rubens. Homicidas em série: quem são eles? Rio de Janeiro: Tirant lo Blanch editora, 2019.     


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Danielle Ortiz de Avila Souza

Especialista em Direito Penal e Processo Penal e Pós-graduanda em Direito Público. Pesquisadora.

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