ONG denuncia investimento em frigoríficos como lavagem de dinheiro e pede investigação fora do Brasil

Uma organização com sede em Paris, Sherpa, que usa o sistema judicial para cobrar mais responsabilidade de agentes econômicos em relação ao meio ambiente e aos direitos humanos, protocolou nesta quarta-feira (8) uma denúncia criminal contra quatro bancos franceses, acusando-os de lavagem de dinheiro por financiarem os frigoríficos JBS e a Marfrig, no Brasil. Para os advogados da organização, os dividendos dessas operações legalizaram capital ilegal ao serem pagos aos bancos investidores, já que parte dos recursos financeiros desses frigoríficos tem origem em atividades ilícitas no Brasil, como o desmatamento ilegal e o trabalho escravo. 

“Os bancos franceses não podem ignorar a responsabilidade da indústria pecuária brasileira no desmatamento ilegal, um problema enorme e sistêmico. Esses bancos teriam, portanto, financiado conscientemente atividades ilegais, crimes, argumentou Jean-Philippe Foegle, Diretor de Litigância e Incidência da Sherpa.

Frigorífico denunciado por lavagem de dinheiro
Reprodução: Jornal do Comércio

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Em fevereiro deste ano, o BNP Paribas foi denunciado à justiça francesa pelo seu financiamento à Marfrig, também relacionando o fluxo financeiro com as violações de direitos humanos e ambientais. O lucro obtido com essas operações foi de cerca de 11 milhões de dólares. No entanto, segundo os advogados, inúmeras investigações revelaram violações ambientais e de direitos humanos.

Irregularidades

A denúncia oferecida contém evidências de que o faturamento dessas operações pode ter origem ilícita, como desmatamento e trabalho escravo. Foi encontrado indícios de irregularidades em aproximadamente 40% da amostra vinculada à Marfrig. 

“Isso demonstra a necessidade de sanções mais fortes para impedir que bancos financiem empresas que lucram com desmatamento ilegal e crimes ambientais”, finalizou Jean-Philippe Foegle.

Conexões com frigoríficos

Em seu Plano de Vigilância, o BNP afirma que “não fornecerá produtos nem serviços financeiros a empresas sem estratégias para atingir o desmatamento zero em suas cadeias produtivas e de fornecimento até 2025, no máximo”. Porém, o banco mantém investimentos na Marfrig e na Minerva, cujas metas de desmatamento zero no país têm como horizonte de tempo o ano de 2030. 

A JBS, também apoiada pelo banco, estabelece meta de desmatamento zero para todos os biomas brasileiros até 2025, mas os planos de monitoramento da empresa não contemplam o segundo nível de seus fornecedores indiretos, ou seja, os que vendem aos fornecedores de seus fornecedores diretos, que respondem por 11% do desmatamento associado à cadeia de fornecimento. Na ocasião, os frigoríficos relembraram seus compromissos com o combate ao desmatamento ilegal e detalharam seus esforços para que suas cadeias produtivas estejam livres de atividades ilegais.